Estrangeiros em Vilhena: desafios de viver uma nova cultura
por Adson Dutra
Emigrar do seu país de origem é um desafio para quem precisa ou resolve mudar de vida. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Vilhena possui cerca de 140 estrangeiros de diferentes países. Laura, Louis e Ahmed são alguns desses estrangeiros que vivem no município rondoniense. Eles são desafiados diariamente a viver essa nova cultura, longe de casa. A saudade da terra natal e dos familiares e as diferenças na culinária, no clima e na língua são apontadas entre as principais dificuldades.

Laura Piscitelli, de 38 anos, nasceu em Roma, casou com um brasileiro e mora no Brasil desde 2011. As principais diferenças para ela são o clima e a culinária, mas a hospitalidade brasileira contribuiu para sua adaptação. “Venho de um lugar onde as quatros estações são bem definidas, e o Brasil é mais tropical. Além disso, os horários são diferentes, os comércios e a arquitetura. Mas o brasileiro é muito receptivo e isso ajudou na adaptação”, contou.

Louis Paslyn, de 34 anos, encontrou no Brasil oportunidade de trabalho, algo que faltava no Haiti, seu país de origem. Em Vilhena desde de 2015, Louis mora sozinho e trabalha como mecânico para sustentar a família que permanece no Haiti. Para ele, o modo de vida em Vilhena é bem parecido com de sua terra natal. “A culinária, o clima e até a língua são similares. O carnaval eu achei um pouco diferente, lá no Haiti tem muito mais fantasias, a música é mais quente”, explicou. Por não possuir parentes em Vilhena, a saudade da família é o que mais torna difícil o dia a dia de Louis no Brasil.

Entre os estrangeiros que moram em Vilhena também está o Ahmed Agan, de 60 anos. Ele saiu do Egito em 2002 para um passeio em São Paulo, a pedido de amigos ficou e escolheu o Brasil como sua nova casa. Depois, veio morar em Vilhena. Uma das maiores dificuldades durante o período de adaptação foi a comunicação. “A língua árabe é totalmente distinta da língua portuguesa e eu falo com árabes o dia inteiro no trabalho. Quase não me comunico com os brasileiros e isso acaba dificultando no aprendizado da nova língua”, disse. Ahmed é contratado por uma empresa paulista para fazer o abate de animais em frigoríficos de acordo com a cultura árabe.

Mesmo buscando se inserirem nos costumes brasileiros, Laura, Louis e Ahmed preservam tradições dos países de origem. Esta é uma ligação que eles acreditam que deve ser mantida. Laura ainda sente muita falta da culinária de Roma e, para diminuir a saudade, o café feito em casa é tipicamente italiano. “O pó é próprio da Itália, os utensílios que usamos para fazer e tomar o café também são bastante comuns por lá”, revelou.
A italiana Laura Piscitelli prepara todo dia um café tradicional de seu país. Vídeo: Adson Dutra
Para Ahmed, a religião é sua ligação mais forte com o Egito. Seguidor do islamismo, todas as sextas-feiras se reúne em oração com outros seguidores em uma mesquita construída pelos muçulmanos que moram em Vilhena. “É um dia sagrado para nós muçulmanos, não importa se é feriado, se surgem outros compromissos, estaremos sempre lá em oração”, afirmou.
É mantendo as tradições de seus países e vivendo os costumes brasileiros que esses estrangeiros tentam superar as dificuldades na adaptação. Mesmo assim, nada faz com que não gostem de estar aqui e vivenciar essa nova cultura.