AgrotóxicoPrincipal

COMIDA QUE MATA: agrotóxico causa 4 mil vítimas por ano no país

Abortos e contaminação do leite afetam grávidas, além de intoxicação

por Elilson Pereira e Quennia Mendes

Um terço dos vegetais mais consumidos pelos brasileiros está contaminado por agrotóxico, segundo relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxico em Alimentos (PARA) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Nos anos de 2016 e 2017, foram analisadas 2.500 amostras dos 18 tipos dos alimentos mais comuns na mesa do brasileiro, a fim de identificar o nível de agrotóxico. A batata foi o único vegetal que não apresentou nenhum lote com contaminação acima do permitido e não autorizado.

+ AGROECOLOGIA: esperança para saúde humana e do solo

Alimentos chegam a ter mais de 90% de agrotóxico. Fonte: Agência nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Infográfico: Mileide Queiroz
Alimentos chegam a ter mais de 90% de agrotóxico. Fonte: Agência nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Infográfico: Mileide Queiroz

A contaminação dos alimentos impacta diretamente na saúde dos consumidores, com efeitos a curto, médio e longo prazo. O Ministério da Saúde estima que, no Brasil, anualmente, existam mais de 400 mil pessoas contaminadas por agrotóxicos, com cerca de 4 mil mortes por ano. Segundo a médica Mayara Souza, muitas vezes só casos de intoxicação imediata são relacionados com o agrotóxico. “Por essa razão raramente se estabelece essa suspeita de diagnóstico nas doenças em longo prazo. Isso acaba dificultando a investigação e acompanhamento dos casos passando muitas das vezes despercebidos os malefícios desse produto na nossa alimentação diária”, explicou.

Intoxicação acontece pelas vias pulmonar e digestiva, além da pele. Fonte: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). Infográfico: Mileide Queiroz
Intoxicação acontece pelas vias pulmonar e digestiva, além da pele. Fonte: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX). Infográfico: Mileide Queiroz

ABORTOS E CONTAMINAÇÃO DO LEITE MATERNO

A contaminação por agrotóxico pode atingir diferentes recursos essências para a vida, como água, solo e também o leite materno. “Os agrotóxicos são lipofílicos, eles têm uma afinidade por gordura e o corpo humano é vasto em tecido adiposo”, explicou a médica Mayara Souza. A própria formação biológica do corpo contribui para que essas substâncias sejam acumuladas em todo organismo. “O leite materno, por ser rico em gordura, acaba recebendo esses agrotóxicos que são excretados durante a amamentação”, completou.

Thayna Martins, de 18 anos, está grávida pela primeira vez e confessa conhecer pouco sobre os malefícios do agrotóxico. “Não é algo que a gente ver falar muito nos jornais, pelo menos eu não vejo. É algo que me assusta porque a gente não tem confiança no que pode comprar para comer. Eu tenho que ter uma preocupação maior com o que como, porque agora não sou só eu, tem uma pessoa que depende de mim”, disse.

O Instituto Nacional do Câncer (INCA), alerta ainda para a possibilidade de aborto por conta da contaminação. “Nesses casos o aborto está relacionado à alta toxicidade dessas substâncias para a célula da placenta ou até mesmo pela incapacidade da placenta de cumprir seu papel de barreira protetora”, pontuou a médica.

PERIGO REAL À SAÚDE HUMANA

Em alguma fase da vida, todas as pessoas serão expostas a agrotóxicos, pelo consumo dos alimentos contaminados ou durante o próprio trabalho. O grupo de trabalhadores rurais é um dos que mais sofre com os efeitos por conta do manuseio constante desse tipo de substância. Alex da Rosa, de 34 anos, trabalha com agricultura desde a adolescência, sempre em contato com o agrotóxico. As consequências não demoraram a aparecer, como uma intoxicação que adquiriu há cerca de um ano. “Depois de 15 anos trabalhando com o veneno, começou a aparecer problema de dor de estômago, muita azia, dor de cabeça. Tudo que eu comia me fazia mal, foi então que decidi mudar para a agricultura agroecológica”, explicou.

Depois da intoxicação, Alex passou a produzir e consumir produtos agroecológicos. Vídeo: Quennia Mendes

Jaime Kurtz, de 66 anos, também faz parte do grupo de trabalhadores rurais com a saúde prejudicada. Há cerca de três anos, ele precisou pausar as atividades agrícolas para cuidar da saúde também por conta de uma intoxicação. “Dava tontura, ânsia de vômito, estava sem apetite para comer. Tomei chá caseiro, mas não resolveu e tive que ir fazer um tratamento na Pastoral da Saúde”, contou.

Jaime tenta convencer outros produtores a abandoarem a produção com agrotóxico. Vídeo: Quennia Mendes

Os sintomas sentidos pelos dois produtores são os mais comuns em caso de intoxicação com o agrotóxico. Ainda de acordo com a médica, por mais que seja feita a desintoxicação e o produtor deixe de manusear a substância, não é possível anular a possibilidade de doenças em longo prazo. “A saúde humana é afetada pelos agrotóxicos de três maneiras: durante a sua fabricação, no momento da aplicação e ao consumir um produto contaminado. Podemos citar como doenças relacionadas ao agrotóxico o parkinson, linfoma, diabetes e câncer, entre outras doenças”, revelou.

Doenças podem se desenvolver anos depois do contato com agrotóxico. Fonte: Instituto Nacional do Câncer (INCA). Infográfico: Mileide Queiroz
Doenças podem se desenvolver anos depois do contato com agrotóxico. Fonte: Instituto Nacional do Câncer (INCA). Infográfico: Mileide Queiroz

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Acessar o conteúdo