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O coração cultural de Porto Velho bate no compasso das festas juninas

Tradição, cultura e economia se entrelaçam nas festas juninas que transformam Porto Velho em um vibrante polo de identidade e resistência popular.

Por Julia Cardoso e Sharon Wayne 

Foto aérea noturna do Parque dos Tanques durante o 40º Arraial Flor do Maracujá. As tendas cobertas, iluminadas e enfeitadas com bandeirinhas coloridas se espalham de forma organizada. Pessoas caminham entre as barracas, onde há mesas, cadeiras e estrutura de palco ao fundo, compondo o clima típico das festas juninas.
40ª Arraial Flor do Maracujá, Cultura, Evento, Governo, Governo Fez e Faz, Lazer, Porto Velho, Rondônia, Serviço, Servidores, Sociedade, Turismo. FOTO DO GOVERNO.

Fogos no céu, cheiro de milho assado no ar, passos marcados pelas quadrilhas e comunidades inteiras reunidas em uma celebração que ultrapassa o entretenimento. Mais do que tradição, os arraiais representam identidade, resistência e desenvolvimento social. 

Enquanto as bandeirolas coloridas tremulam nas ruas, os bairros da capital se transformam em polos culturais, onde passado e presente se encontram. A cidade, com sua mistura de influências nordestinas e amazônicas, celebra com intensidade as festas juninas. 

“A cultura pulsa nesses eventos. É onde o povo se encontra, se reconhece e se fortalece. Nossa missão é manter isso vivo, apoiar e ampliar cada vez mais”, afirma Antônio Ferreira, presidente da Fundação Cultural de Porto Velho (FUNCULTURAL).

Mais que festa: identidade e renda 

A movimentação junina vai além da estética e do folclore. Ela movimenta a economia local, impulsiona setores como alimentação, vestuário, turismo e transporte. Costureiras, artistas, vendedores ambulantes, grupos culturais e pequenos empreendedores veem nos arraiais uma oportunidade concreta de trabalho e renda. 

Segundo a Secretaria Municipal de Indústria, Comércio, Turismo e Trabalho (Semdestur), a prefeitura tem investido em ações como o ‘Arraial da Prefs’ e no fortalecimento do circuito junino para atrair turistas e valorizar a cultura local. Em 2025, o Arraiá da Prefs, realizado de 23 a 25 de maio no Parque da Cidade, teve expectativa de cerca de 20 mil visitantes por dia, marcando o início do Circuito Junino, que este ano inclui 24 arraiais em diversos bairros.  

A festa vista por quem vive 

Para quem acompanha de perto os festejos, o significado vai além do entretenimento. Sheila Cardoso, moradora de Porto Velho há 40 anos, frequenta os arraiais com regularidade. Para ela, as festas são parte essencial da vida comunitária. “Tento não perder um arraial! Levo meus filhos, é ali que a gente reencontra amigos, revive memórias. E o melhor: podendo fazer tudo isso no quintal da nossa casa. Porto Velho tem uma energia única nessa época do ano”, conta a porto velhense.  

Outro destaque das festas juninas é o Boi-bumbá. Em 2024, o grupo Az de Ouro foi campeão do tradicional Arraial Flor do Maracujá. A presidente do grupo, Andreia Guedes, reforça a importância de manter viva a tradição. 

“A gente se apresenta para mostrar um pouco da nossa cultura. E foi com essa dedicação que conquistamos o título de campeões no Flor do Maracujá. É isso: a cultura precisa seguir em frente”, afirmaAndreia Guedes. 

Fotografia colorida. Mulher negra beijando o Boi-Bumbá vestida com fantasia azul e prata do grupo do Boi-Bumbá. Ela segura O Boi-Bumbá, usando um adorno de cabeça brilhante com flores e borboletas. Ao fundo, vê-se parte de uma quadra. A cena acontece à noite, com iluminação.
Sinhazinha, Jhenifer Cristina, do Boi-Bumbá, Arraial do Refis 2025, foto das redes sociais da entrevistada.

A presença das quadrilhas, com trajes e coreografias elaboradas, é um dos destaques da temporada. Os grupos se preparam durante todo o ano, ensaiando e organizando figurinos, muitas vezes com poucos recursos. Para apoiar esse trabalho, a FUNCULTURAL promove editais, capacitações e articula parcerias com escolas e universidades, além de executar a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB). 

Desafios e caminhos possíveis 

Apesar da força popular, os grupos enfrentam dificuldades. A captação de recursos, a visibilidade reduzida e a diminuição do interesse entre os jovens – especialmente por restrições religiosas – são alguns dos desafios. “Estamos trabalhando para garantir cachês às quadrilhas, viabilizar editais acessíveis e fortalecer a cultura em todas as frentes. Fazer cultura é manter viva a alma da cidade”, reforça Antônio Ferreira, presidente da FUNCULTURAL. 

Calendário dos arraiais de julho em Porto Velho 

Evento  Data  Local  Horário 
Arraial do Orgulho  06/07  Orgulho do Madeira  20h 
Arraial Sul  09 a 13/07  Poliesportivo da Jatuarana  20h 
Arraial do Tucumanzal  11 a 13/07  Tucumanzal  20h 
Arraial do Triângulo  12 a 13/07  Bairro Triângulo  20h 
Raízes Nordestinas  24 a 27/07  Poliesportivo Três Marias  20h 
Flor do Maracujá  25/07 a 03/08  Parque dos Tanques  20h 
Arraial Milho de Ouro  25 a 27/07  Candelária II  20h 
Arraial Floresta na Roça  30/07 a 03/08  Bairro Floresta  20h 
Arraial Diamante do Cristal  24 a 27/07  Cristal do Calama  20h 
Festival dos Campeões Juninos  02 a 06/08  Sem informações ainda sobre o local  20h 
Arraial do Morar Melhor  07 a 10/08  Espaço da prefeitura  20h 
5ª Amostra Cultural Flor do Cristal  08 a 10/08  Cristal do Calama  20h 

Arraial é encontro, memória e futuro 

As festas juninas em Porto Velho representam um elo entre gerações, bairros e culturas. São espaços de convivência e celebração que resistem às mudanças e desafios. Como diz Sheila,  

“Enquanto tiver forró e quadrilha, eu tô lá. Porque a gente precisa disso pra não esquecer quem somos.” 

 

 

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