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Cinema e Identidade

Produções cinematográficas de Porto Velho ganham prêmios e exaltam a cultura da região

Por Carl Gustavo e Juan Felix

O documentário “Concerto de Quintal”, produzido pela Casa Rio Filmes, com direção de Juraci Júnior, foi selecionado para a 17ª edição do Festival Internacional do Documentário Musical (In-Edit Brasil), realizado entre os dias 11 e 22 de junho, em São Paulo. A seleção reconhece o potencial histórico e cultural do filme que, ao transformar memórias e vivências em narrativas, ajuda a fortalecer as identidades locais e conectar o passado ao presente. O filme percorre as histórias sonoras da cidade e reúne artistas de diferentes gerações para explorar influências, fusões e transformações ao longo do tempo. 

“A gente percorre as memórias da cidade, os quintais, as memórias afetivas, investigando e querendo saber um pouco mais sobre essa identidade, especialmente dentro da nossa música. É um trabalho bem profundo, a gente olha para todo esse recorte multicultural que existe em Porto Velho”, afirma Juraci Júnior.

Apesar de todo o prestígio que as obras recebem, fazer cinema independente é um desafio. A produção das peças audiovisuais exige preparação prévia, seja na produção dos roteiros, na seleção dos equipamentos e das equipes ou na logística das filmagens. Diversos fatores influenciam o resultado final.

Para todo tipo de trabalho, ter conhecimento básico é fundamental e a existência de cursos profissionalizantes facilita isso. Para Juraci, a carência de formação e escolas técnicas para o audiovisual na região gera muitos desafios. 

Os artistas aqui da cidade que trabalham com audiovisual buscam cursos fora, como é o meu caso. Atualizações, oficinas, preparações, muito estudo em outros lugares, para que a gente possa aprender, dialogar com a nossa equipe local”, relata o diretor Juraci Júnior.

Porém, mesmo com esse cenário, Juraci Júnior visualiza uma efervescência para novas produções pela existência dos incentivos das Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, essenciais para a manutenção e o suporte dos produtos cinematográficos. “A gente precisa experimentar, se jogar, fazer sempre mais cinema, eu vejo que a gente está numa fase muito boa, de muita produção, de muito experimento”, complementa.

As Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc oferecem benefícios significativos para o setor cultural brasileiro. Ambas as leis visam garantir o acesso a recursos financeiros para artistas, produtores culturais, espaços culturais e empresas do setor. A execução do recurso promove o desenvolvimento e a continuidade das atividades culturais.

Vai com Deus

O curta-metragem “Vai com Deus”, roteirizado pelo jornalista Paulo Andreoli e o cineasta Édier Willian, co-roteirizado por Fabiano Barros e com direção de Neto Cavalcanti, foi viabilizado com recursos da Lei Paulo Gustavo. O roteiro é baseado em uma crônica intitulada “Zé dos Lírios – o papa defunto”, de autoria do ativista cultural e músico Altair Santos (Tatá). “Vai Com Deus” é um filme forte, que retrata a vida, os rituais, os silêncios e as dores de um povo invisibilizado, mas cheio de história e resistência. Dirigir esse curta é também uma forma de devolver à comunidade ribeirinha um pouco da sua própria imagem, da sua cultura e do seu valor”, destaca o diretor Neto Cavalcanti em entrevista ao site Rondoniaovivo.

O auxílio oferecido pelas leis de incentivo para a produção de “Vai com Deus” foi muito além de bancar a produção do filme. “Esse incentivo auxilia no emprego e renda, além da equipe de audiovisual, geramos renda na própria Vila São Sebastião. Fortalecemos a identidade cultural”, afirma Marília Macedo, diretora de produção da obra. “Os recursos são transferidos em fases: adiantamento, conforme cumprimento de metas, prestação de contas técnicas e financeiras. A Sejucel acompanhou com rigor essa execução”, complementa Macêdo.

Em entrevista concedida à emissora Rondovisão, Neto Cavalcanti afirma que toda a verba recebida da Lei Paulo Gustavo foi usada de forma proporcional na produção do curta, gerando uma renda para os moradores da comunidade da São Sebastião que participaram das filmagens, além da locação dos ambientes da cena e da alimentação da equipe e dos habitantes da vila. O curta-metragem “Vai com Deus” estreia no dia 7 de Setembro na Vila de São Sebastião. 

Envolver as comunidades em produções cinematográficas como essa é fundamental para a construção e o resgate da identidade local. O fomento ao audiovisual vai muito além de incentivos federais ou de cursos técnicos na área, mas também da democratização das produções para o público da região, colocando as pessoas perto do cinema para que elas vejam a sua realidade sendo representada.

Reconhecimento internacional

Em 2024, uma produção de Porto Velho foi destaque em cenário nacional e internacional. O curta-metragem “Ela mora logo ali”, com direção de Fabiano Barros e Rafael Rogante, venceu na categoria ‘Melhor Ficção’ no Festival AluCine Latin Film + Media Arts, realizado em Toronto, no Canadá. Além dessa conquista, a obra já ganhou outros 40 prêmios, como 3 Kikitos de Ouro no 51º Festival de Cinema de Gramado, em 2023. O cinema rondoniense é potente e tem reconhecimento local, nacional e internacional. 

A linguagem cinematográfica constrói o significado da obra, guia a interpretação do espectador e cria uma experiência sensorial única. Todos esses conceitos, combinados com narrativas e temáticas bem desenvolvidas, podem tornar o cinema um instrumento de transformação social ao abordar questões sociais de grande repercussão.

Mostra de cinema

A Mostra de Cinema e Direitos Humanos nos leva a esse lugar. Um ambiente com uma experiência cinematográfica que combina o sensorial com o social. A edição de 2024 teve a temática “Viver com Dignidade é Direito Humano”, ressaltando a importância da dignidade humana para assegurar a qualidade de vida e liberdade para todas as pessoas. 

“Eu acho que esse conjunto de filmes, pensando na diversidade de temas e na pluralidade das produções, possibilitaram debater e conhecer narrativas audiovisuais que nos fornecem diversos caminhos para que a gente pensa essa relação entre cinema e direitos humanos”, afirma o professor Juliano Araújo, docente na Universidade Federal de Rondônia e responsável pela produção local do evento em 2024.

Todos os anos, os filmes da mostra tocam em diferentes temáticas. Direito à memória, questões relacionadas aos direitos da infância e adolescência, discussões de gênero e sexualidade da comunidade LGBTQIAPN+, cinema indígena, enfim, uma diversidade de temas que trazem debates sobre a sociedade em que vivemos.

Vale mencionar que na edição de 2024 uma produção rondoniense se destacou. O filme documentário “Somos Terra”, dirigido por Elizabeth Christofoletti e Nilson Santos, abordou a questão dos indígenas Karitiana e a importância da terra para os povos originários.

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