Concerto Candlelight em Rondônia evidencia os efeitos do “custo amazônico”
Por Gustavo Moret, Vitória Rilary e Vinicius Roberto

Foto: Vitória Rilary
O aclamado concerto Candlelight, conhecido por suas apresentações intimistas à luz de velas com repertórios que vão de clássicos de Vivaldi a versões instrumentais de Coldplay, chega pela primeira vez ao estado de Rondônia em maio. A estreia aconteceu em Porto Velho, no Teatro Guaporé, e atraiu dezenas de espectadores. Porém, os bastidores do evento revelam uma realidade já enfrentada por eventos culturais da região: o alto custo para produzir eventos culturais na Amazônia.
Um espetáculo esperado. E caro
Organizado pela plataforma Fever, responsável pela realização de concertos Candlelight em todo o Brasil e no mundo, o evento foi anunciado com grande entusiasmo nas redes sociais e teve ingressos esgotados rapidamente. O espetáculo apresentou arranjos de músicas populares, executados por músicos de diversos lugares do Brasil.

Foto: Gustavo Moret
No entanto, trazer esse evento para Rondônia envolve custos significativamente maiores que os enfrentados por capitais do Sudeste ou do Sul do país. Além dos custos mais altos com os voos para o estado, o percurso é mais longo e cansativo do que o normal.Fazendo uma consulta rápida em sites de passagem aérea, vimos que um voo de Belém para Porto Velho, pagando por volta de R$3.500, pode durar até 31h e um voo de Porto Alegre para Porto Velho, custando por volta de R$4.300, pode durar até 19h.
O custo amazônico sob os holofotes

A disparidade de custos entre as regiões do país é conhecida como “custo amazônico”, um termo utilizado para descrever os desafios econômicos enfrentados por estados da região Amazônica, incluindo infraestrutura precária, transporte caro, dificuldade de acesso a materiais, a estudos de qualidade e aos próprios locais dentro dessa região. Segundo o assessor de logística da Fundação Cultural do Estado de Rondônia (FUNCER), Felipe Soares, eventos como o Candlelight são exemplos importantes que evidenciam o potencial cultural de Rondônia e o interesse crescente do público por experiências culturais de alta qualidade.
“Entendemos que a recepção positiva a esse tipo de evento demonstra que existe demanda, sensibilidade e engajamento cultural no estado. No entanto, a realização frequente de iniciativas semelhantes ainda enfrenta alguns obstáculos significativos” Felipe Soares, Assessor de Logística da FUNCER

A FUNCER reconhece que o chamado “custo amazônico” é um dos principais entraves à produção cultural de grande porte na região e que esse custo se refere não apenas à distância geográfica dos grandes centros urbanos e pólos culturais do país, mas também à logística, à limitação de infraestrutura e às dificuldades no transporte de equipamentos, artistas e equipes técnicas.
Uma experiência transformadora, mas desigual
A chegada do Candlelight também levantou o debate sobre a centralização do acesso à cultura de qualidade no Brasil. Porto Velho, assim como outras capitais da região Norte, ainda está fora da rota comum de turnês e festivais, mesmo com uma população culturalmente ativa e ávida por experiências novas.
Suzane Cristina e Maiza Dias, por exemplo, são duas portovelhenses que assistiram ao concerto e afirmaram que foi espetacular, mas também citam a falta de eventos culturais internacionais em Rondônia, ao contrário do que se vê em outros estados.
Felipe Soares cita algumas ações e iniciativas da FUNCER com o objetivo de ampliar o acesso da população rondoniense a grandes eventos culturais como editais regionalizados com critérios que valorizam propostas da região Norte e consideram os custos extras locais, fomento à circulação de espetáculos dentro de Rondônia e entre estados amazônicos, parcerias com prefeituras, empresas e instituições culturais para dividir custos e ampliar o alcance das ações e implementação da Lei Paulo Gustavo e da PNAB, priorizando o acesso descentralizado e projetos inclusivos.
Caminhos para o futuro
Segundo o assessor de logística da FUNCER, a fundação prevê para o futuro a criação de novos editais voltados a grandes produções e circulação nacional/internacional com apoio técnico e logístico. A Fundação ainda acredita na consolidação de parcerias inter-regionais para integrar Rondônia em circuitos culturais da Amazônia Legal e do Centro-Oeste, além do reconhecimento de que há público e diversidade cultural prontos para receber grandes eventos.
Soares também cita que ainda há entraves estruturais a superar, como a modernização de espaços culturais e o fortalecimento institucional do setor.
“Do ponto de vista institucional, a Fundação entende que o estado reúne potencial humano, diversidade cultural e público interessado, mas ainda enfrenta desafios estruturais e sistêmicos que precisam ser superados para integrar, de forma permanente, o circuito nacional de grandes eventos culturais”, enfatiza Soares.
A expectativa da população é participar de espetáculos culturais em Porto Velho, mas para isso acontecer com mais frequência, será necessário mais do que aplausos. Será preciso uma articulação concreta entre produtores, patrocinadores e gestores públicos para superar as barreiras que ainda isolam Rondônia do grande circuito cultural brasileiro.
Os concertos Candlelight acontecem até setembro no Teatro Guaporé. Os ingressos podem ser adquiridos pelo aplicativo ou site da Fever.