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Concerto Candlelight em Rondônia evidencia os efeitos do “custo amazônico”

Por Gustavo Moret, Vitória Rilary e Vinicius Roberto

Fotografia colorida de um concerto Candlelight realizado no Teatro Guaporé, em Porto Velho. Quatro músicos tocam instrumentos de corda: dois violinos, uma viola de arco e um violoncelo. Todos estão sobre um palco coberto por centenas de velas eletrônicas acesas, criando uma atmosfera acolhedora e intimista. A plateia assiste em silêncio, com a iluminação do ambiente focada nas velas e nos artistas.
O Concerto Candlelight encanta o público de Porto Velho e revela o potencial para eventos culturais de grande porte na capital rondoniense.
Foto: Vitória Rilary

O aclamado concerto Candlelight, conhecido por suas apresentações intimistas à luz de velas com repertórios que vão de clássicos de Vivaldi a versões instrumentais de Coldplay, chega pela primeira vez ao estado de Rondônia em maio. A estreia aconteceu em Porto Velho, no Teatro Guaporé, e atraiu dezenas de espectadores. Porém, os bastidores do evento revelam uma realidade já enfrentada por eventos culturais da região: o alto custo para produzir eventos culturais na Amazônia.

Um espetáculo esperado. E caro

Organizado pela plataforma Fever, responsável pela realização de concertos Candlelight em todo o Brasil e no mundo, o evento foi anunciado com grande entusiasmo nas redes sociais e teve ingressos esgotados rapidamente. O espetáculo apresentou arranjos de músicas populares, executados por músicos de diversos lugares do Brasil.

Fotografia colorida tirada do fundo do Teatro Guaporé. Ela mostra o palco decorado com centenas de velas eletrônicas acesas, criando um efeito visual encantador e acolhedor. A plateia, sentada em fileiras de poltronas, aguarda o início do concerto Candlelight. Algumas pessoas registram o momento com seus celulares, enquanto o ambiente permanece em penumbra, iluminado apenas pelas luzes das velas.
Público aguarda início do Concerto Candlelight. Evento intimista com iluminação por velas chamou atenção pela experiência sensorial e pelo diferencial dos eventos em Rondônia.
Foto: Gustavo Moret

No entanto, trazer esse evento para Rondônia envolve custos significativamente maiores que os enfrentados por capitais do Sudeste ou do Sul do país. Além dos custos mais altos com os voos para o estado, o percurso é mais longo e cansativo do que o normal.Fazendo uma consulta rápida em sites de passagem aérea, vimos que um voo de Belém para Porto Velho, pagando por volta de R$3.500, pode durar até 31h e um voo de Porto Alegre para Porto Velho, custando por volta de R$4.300, pode durar até 19h.

O custo amazônico sob os holofotes

Homem de pele parda, barba cheia e cabelo curto escuro sorri olhando levemente para cima. Ele veste uma camisa polo branca e está posicionado contra um fundo escuro. Trata-se de Felipe Soares, assessor de logística da FUNCER.
Felipe Soares, da FUNCER, destaca os desafios logísticos enfrentados pela fundação para viabilizar a realização de eventos culturais no estado

A disparidade de custos entre as regiões do país é conhecida como “custo amazônico”, um termo utilizado para descrever os desafios econômicos enfrentados por estados da região Amazônica, incluindo infraestrutura precária, transporte caro, dificuldade de acesso a materiais, a estudos de qualidade e aos próprios locais dentro dessa região. Segundo o assessor de logística da Fundação Cultural do Estado de Rondônia (FUNCER), Felipe Soares, eventos como o Candlelight são exemplos importantes que evidenciam o potencial cultural de Rondônia e o interesse crescente do público por experiências culturais de alta qualidade.

 

 

“Entendemos que a recepção positiva a esse tipo de evento demonstra que existe demanda, sensibilidade e engajamento cultural no estado. No entanto, a realização frequente de iniciativas semelhantes ainda enfrenta alguns obstáculos significativos” Felipe Soares, Assessor de Logística da FUNCER

O infográfico tem como título "Os preços do custo amazônico" e apresenta os principais obstáculos enfrentados pela FUNCER (Fundação Cultural do Estado de Rondônia) para a realização de eventos culturais na região. O fundo é bege claro, e no centro há um mapa do estado de Rondônia, com setas apontando para diferentes ícones e blocos de texto.À esquerda superior, há um avião verde representando Transporte e Logística. O texto diz: “A distância dos grandes centros culturais do país e a limitação de voos para Rondônia aumentam o custo e o tempo de deslocamento de equipes e equipamentos.” Abaixo, um ícone de nuvem cinza com gotas de chuva representa Clima Adverso. O texto diz: “Calor, umidade e chuvas fortes exigem cuidados extras com equipamentos técnicos, além de impactar na montagem e desmontagem de estruturas ao ar livre.” Na parte superior direita, um ícone de palco representa Infraestrutura Técnica. O texto diz: “Rondônia carece de estruturas adequadas para montagens de grande porte, o que exige adaptações que elevam o custo da produção.” No canto inferior esquerdo, um ícone de cédula cortado por um traço representa Falta de Financiamento. O texto diz: “Pouca tradição de patrocínio à cultura e editais nacionais que não contemplam as particularidades regionais limitam os recursos de projetos culturais mais elaborados.” No canto inferior direito, um globo verde com setas rodando por volta dele representa Falta de Circuitos Culturais. O texto diz: “Há uma ausência de circuitos culturais consolidados na Amazônia Legal que permitiriam a realização de eventos em sequência, de forma colaborativa e eficiente.” No canto superior direito da imagem, há os créditos: Fonte: Felipe Soares, Assessor de Logística da FUNCER.
Infográfico por: Gustavo Moret

A FUNCER reconhece que o chamado “custo amazônico” é um dos principais entraves à produção cultural de grande porte na região e que esse custo se refere não apenas à distância geográfica dos grandes centros urbanos e pólos culturais do país, mas também à logística, à limitação de infraestrutura e às dificuldades no transporte de equipamentos, artistas e equipes técnicas.

Uma experiência transformadora, mas desigual

A chegada do Candlelight também levantou o debate sobre a centralização do acesso à cultura de qualidade no Brasil. Porto Velho, assim como outras capitais da região Norte, ainda está fora da rota comum de turnês e festivais, mesmo com uma população culturalmente ativa e ávida por experiências novas.

Suzane Cristina e Maiza Dias, por exemplo, são duas portovelhenses que assistiram ao concerto e afirmaram que foi espetacular, mas também citam a falta de eventos culturais internacionais em Rondônia, ao contrário do que se vê em outros estados.

Felipe Soares cita algumas ações e iniciativas da FUNCER com o objetivo de ampliar o acesso da população rondoniense a grandes eventos culturais como editais regionalizados com critérios que valorizam propostas da região Norte e consideram os custos extras locais, fomento à circulação de espetáculos dentro de Rondônia e entre estados amazônicos, parcerias com prefeituras, empresas e instituições culturais para dividir custos e ampliar o alcance das ações e implementação da Lei Paulo Gustavo e da PNAB, priorizando o acesso descentralizado e projetos inclusivos.

Caminhos para o futuro

Segundo o assessor de logística da FUNCER, a fundação prevê para o futuro a criação de novos editais voltados a grandes produções e circulação nacional/internacional com apoio técnico e logístico. A Fundação ainda acredita na consolidação de parcerias inter-regionais para integrar Rondônia em circuitos culturais da Amazônia Legal e do Centro-Oeste, além do reconhecimento de que há público e diversidade cultural prontos para receber grandes eventos.

Soares também cita que ainda há entraves estruturais a superar, como a modernização de espaços culturais e o fortalecimento institucional do setor.

“Do ponto de vista institucional, a Fundação entende que o estado reúne potencial humano, diversidade cultural e público interessado, mas ainda enfrenta desafios estruturais e sistêmicos que precisam ser superados para integrar, de forma permanente, o circuito nacional de grandes eventos culturais”, enfatiza Soares.

A expectativa da população é participar de espetáculos culturais em Porto Velho, mas para isso acontecer com mais frequência, será necessário mais do que aplausos. Será preciso uma articulação concreta entre produtores, patrocinadores e gestores públicos para superar as barreiras que ainda isolam Rondônia do grande circuito cultural brasileiro.

Os concertos Candlelight acontecem até setembro no Teatro Guaporé. Os ingressos podem ser adquiridos pelo aplicativo ou site da Fever.

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