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Ribeirinhos afetados pela enchente do Rio Madeira relatam desafios e necessidades básicas

Os impactos ambientais e sociais causados pela enchente prolongada

Por Bruna de Paula e Josilene Santos  

Seja no piso de madeira ou na plantação de bananeiras, o Rio Madeira, com sua água barrenta, mais uma vez invadiu a comunidade de São José da Praia, localizada no Baixo Madeira, e deixou rastros para os moradores. Ao longo do mês de abril, o rio atingiu a cota de inundação e chegou à marca de 16,73m. A Prefeitura de Porto Velho decretou emergência por um período de 180 dias, a partir de 10 de abril. 

Fotografia colorida. A imagem mostra uma casa simples de madeira pintada de azul sobre estacas de madeira com um telhado de zinco. Ela está localizada em uma área ribeirinha, cercada por vegetação. Há três aberturas: uma porta aberta e duas janelas. Ao lado direito da imagem, em frente à casa, há uma antena parabólica instalada no chão.
Foto: arquivo pessoal de Rosilene Nascimento

Moradores da comunidade relatam que contabilizaram danos significativos após a baixa do rio. Rosilene Nascimento, monitora escolar e moradora da comunidade, conta como estão se recuperando da enchente. 

“Muita lama, tem que suportar o mau cheiro que fica. Não está sendo fácil. Vai demorar um pouco para voltar ao normal e a casa está um pouco danificada”, relata Rosilene Nascimento.  

Além disso, a falta de alimentos frescos é um problema grave. “Em questão da alimentação,não tem nem hortaliça pra fazer uma refeição de boa qualidade. Perdemos tudo da horta”, lamenta Nascimento. A comunidade também enfrenta problemas de infraestrutura básica. “Em relação à água, retiramos do rio mesmo, com bomba. Não temos água encanada. Saneamento básico é zero”, conclui.  

Fotografia colorida. A imagem mostra a destruição de uma plantação de bananeira em uma área ribeirinha impactada pela enchente. O solo está coberto de lama e detritos, com muitas árvores e plantas tombadas ou severamente danificadas. As poucas bananeiras que ainda estão de pé apresentam folhas rasgadas e troncos destruídos. O céu está com o sol brilhando por entre as nuvens.
Foto: arquivo pessoal de Adilson Lima

Para o agricultor Adilson Lima, morador da comunidade de Nazaré, a enchente destruiu as plantações e deixou os moradores sem alimentos e recursos básicos. “Praticamente perdemos tudo, a maioria das coisas que não conseguimos tirar de dentro de casa foi perdida. A nossa alimentação, tiramos dos plantios, e hoje acabou. A maioria das famílias aqui vive da agricultura. Eu, por exemplo, não tenho outro meio de sobrevivência se não for a agricultura. Os bananais foram todos mortos. Temos que começar tudo de novo, acabou toda a macaxeira.  Eu não sei nem como é que nós vamos fazer para plantar a roça, porque não tem semente”, relata. 

Apesar da situação difícil, Adilson tem esperança de que a comunidade possa se recuperar. “Daqui a sete meses nós estaremos de volta”, estima. No entanto, ele pede ajuda urgente para a comunidade. “Pedimos para que não venha outra enchente dessa, porque aí fica difícil. Urgentemente, ajudar esse povo, porque não é só eu, é a comunidade inteira, precisando de ajuda das autoridades”, desabafa Lima. 

Vídeo: arquivo pessoal de Adilson Lima

No mês de maio, segundo a última medição realizada pelo Sistema Integrado de Monitoramento e Alerta Hidrometeorológico (SipamHidro), uma plataforma digital desenvolvida pela Coordenação de Hidrologia (COHIDRO) do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam) e que integra hardwares, softwares, metodologias e procedimentos de coleta, armazenamento, gerenciamento, análise e consulta de dados, a última medição do Rio Madeira realizada até o fechamento dessa matéria, no dia (13) de maio, foi de 13,83S m. O rio permanece baixando.  

Conversamos com a médica infectologista e professora do curso de medicina do Centro Universitário São Lucas, Estela Zimmerle, que falou sobre o perigo da água contaminada após a enchente “É extremamente prejudicial para o ser humano, porque as doenças que são transmitidas principalmente pelo contato, pela ingestão dessa água que entra nas residências após a enchente, que pode dar doenças, diarreicas, hepatite, leptospirose, porque essa água acaba lavando aqueles quintais e as calçadas onde tem urina de rato, e aí se você não tomar uma precaução e estiver descalço ou com chinelo, você pode entrar em contato com essa água e acabar tendo uma leptospirose, que é uma doença sistêmica”, enfatizou.  

A médica também ressalta as orientações corretas de limpeza após a enchente. “É importante que as pessoas que têm as casas inundadas, quando forem limpar, façam uma higienização, usem botas, luvas, para não ter contato direto com essa água. Podemos extrapolar até para dengue, pois se tiver água que fica empossada, parada, pode ser transformar em um criadouro de mosquito da dengue, malária. Tudo isso a gente tem que ter cuidado para que esses terrenos fiquem limpos, mas as pessoas fiquem protegidas”, finalizou.   

Fotografia colorida. A imagem mostra uma casa de madeira parcialmente submersa devido à enchente. A água de cor barrenta quase atinge a base do piso da casa, cobrindo completamente o quintal ao redor. A residência é simples, com telhado de zinco e um varal onde estão penduradas roupas coloridas. A casa está cercada por vegetação densa e árvores altas.
Foto arquivo pessoal de Roosevelt Barros.

Vale destacar que o rio Madeira está distante da sua maior cota de altura, registrada na cheia histórica de 2014 Dez anos da cheia histórica do Rio Madeira: as marcas permanentes do maior desastre natural de Rondônia. Nessa mesma época do ano, marcou mais de 19,50m. Mais de 30 mil famílias foram afetadas em bairros, distritos e invadiu a casa dos moradores Casas ficam cheias de lama após nível do Rio Madeira baixar em RO em todas as comunidades ribeirinhas. Aquela foi a primeira paralisação de uma das maiores hidrelétricas do país, a Usina Hidrelétrica Santo Antônio. 

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