Rondonienses praticam esporte rompendo estereótipos de gênero
Diana Assis e Luiz Matheus enfrentam preconceitos e escolhem a felicidade por meio de modalidades esportivas
Por Loide Gonçalves

“Menino veste azul e menina veste rosa. Menino faz rally e menina faz ballet…” Declarações como essas são comuns e reforçam estereótipos de gênero. Esses preconceitos não foram o suficiente para frear Diana Assis e Luiz Matheus, ambos nascidos em Porto Velho. Mesmo com os desafios e olhares condenatórios, Diana pratica rally e Luiz vive o ballet clássico.
Diana tem 42 anos e iniciou o seu caminho em busca de um esporte quando já havia desistido de si mesma. Acostumada a cuidar da casa, do marido e dos filhos, tinha esquecido do principal: ter tempo de qualidade consigo.
“Desde que tive meu primeiro filho, minha vida mudou. Deixei de viver para mim. Esqueci mesmo de mim. Minha psicóloga, em uma terapia, me recomendou um esporte e foi difícil encontrar… Nem lembrava do que gostava mais”, conta Diana Assis.
Com o apoio do marido, conheceu o Rally do Batom há alguns anos atrás e desde então nunca mais deixou de estar nas pistas procurando uma aventura. O evento é voltado exclusivamente para mulheres e reúne pilotas em duas categorias: veículos 4×4 e 4×2. “A adrenalina é muito boa. É lama, poeira, ladeira… Tudo muito divertido”, explica.
O rally entrou na rotina para além das competições. Semanalmente se encontra com a equipe e, literalmente, corre rumo à felicidade. Mesmo não sendo um esporte visto como ‘feminino’, foi nele que Diana se encontrou.
“Eu agora, toda semana, tenho meu tempo. Sou uma mãe, uma esposa, uma filha… Muito melhor desde que comecei a fazer isso por mim, mas sempre tem aqueles olhares estranhos ou surpresos”, diz.

(Crédito: Loide Gonçalves)
Os olhares também são marcantes para Luiz, de 29 anos. Segundo ele, nem todos entendem um homem escolher fazer um esporte visto como feminino. “Crescemos dentro dessas caixinhas, como se existisse brincadeira de menina, brincadeira de menino, cor e tudo… E quando crescemos parece que a gente não pode fazer o que quer, nada que fuja dessas caixas”, explica ele.
Luiz sempre gostou de dançar, mas foi na fase adulta que decidiu ignorar essas “caixas” e entrar na primeira aula de ballet, onde se realizou. Nos palcos, encontrou confiança para enfrentar a timidez e viver uma vida mais feliz.

(Reprodução: Redes sociais)
Mas isso está certo?
De acordo com o Anuário Estatístico de Sinistro de Trânsito divulgado pelo Departamento Estadual de Trânsito de Rondônia (Detran/RO), no ano de 2024, 22.287 acidentes de trânsito tiveram homens envolvidos, enquanto, no mesmo período, 9.618 mulheres se envolveram em sinistros. Os dados apresentam uma realidade: homens se envolvem 130% mais em acidentes de trânsito do que mulheres.
“Mulher dirige muito melhor e mesmo assim o rally ainda é visto como um esporte masculino. Não tem sentido”, diz Diana Assis.
Já no ballet os dados mostram que os estereótipos de gênero intensificaram a diferença numérica de alunos praticando a arte. Nos Estados Unidos, por exemplo, um estudo da National Endowment for the Arts revela que apenas 8% dos bailarinos profissionais são homens.
“Essa diferença mostra que tem que apoiar homens que querem seguir como bailarinos. Homens são importantes para essa arte, para crescermos culturalmente”, explica Luiz.
O que são estereótipos de gênero?
Segundo o Escritório Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), um estereótipo de gênero “é uma opinião ou um preconceito generalizado sobre atributos ou características que homens e mulheres possuem ou deveriam possuir ou das funções sociais que ambos desempenham ou deveriam desempenhar”.
Essas projeções regadas pelo preconceito e achismos faz com que homens e mulheres deixem de desenvolver aptidões pessoais por acreditarem que precisam seguir o que é “pré-estabelecido” pela sociedade.
Rebeca Falcão, profissional de educação física, afirma que o fundamental para a saúde é se exercitar. “Independente do esporte que você escolher, escolha algum. É importante não só para a saúde física, mas para ajudar emocionalmente, psicologicamente… E é muito mais fácil você manter constância em uma atividade que você gosta de fazer. Faça o que gosta e pronto”, explica a profissional.