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Agroindústrias do queijo: Entenda a relevância e o destaque desse mercado que cresce em Rondônia

Agroindústrias do queijo ganham destaque em concursos estaduais e fortalecem a economia de Rondônia com produção artesanal, geração de renda e valorização do campo

Por Carl Gustavo e Juan Felix

Queijo coalho da Agroindústria Paiol do Queijo (Reprodução: Redes Sociais)

A produção de queijo realizada pelas agroindústrias familiares é uma atividade que vai além da simples transformação do leite: ela representa a valorização do trabalho rural e da agricultura familiar. Muitas famílias utilizam técnicas passadas de geração em geração, combinadas com melhorias sanitárias e tecnológicas, o que gera produtos de alta qualidade e com características únicas, típicas da região onde são produzidos.

A agroindústria Paiol do Queijo, localizada em Candeias do Jamari, é um exemplo de tradição e inovação no setor lácteo. Eles iniciaram a produção de queijos há 20 anos e há 18 anos consolidaram a marca “Paiol do Queijo”.

A maior parte da equipe é composta por familiares. Com um portfólio diversificado, destacam-se queijos tipo provolone, muçarela e coalho, que conquistaram prêmios em concursos estaduais, como o ConQueijo, realizado durante a Rondônia Rural Show Internacional. 

A marca já é tricampeã no campeonato. Em 2022 e 2023 ganharam na categoria queijos provolone e em 2024 na categoria mussarela. Segundo Luzinete Fernandes Silva, produtora da marca, a família participa desde a primeira edição da competição. “A gente vem ganhando os prêmios, sempre em primeiro lugar com o provolone e mussarela no ano passado”, afirma.

As agroindústrias desempenham um papel fundamental para o desenvolvimento econômico e social da região. Elas representam uma ponte entre o campo e o mercado e dão valor à produção agrícola por meio da transformação de matérias-primas em produtos industrializados, como alimentos processados, bebidas e laticínios.

A participação em campeonatos traz retorno às marcas como visibilidade e divulgação. Segundo Luzinete, “o queijo fica conhecido, divulgado, e a tendência é sempre vender mais. A divulgação no ConQueijo faz você crescer na mídia e todo mundo conhecer”, conclui.

Incentivos e projetos governamentais direcionados às agroindústrias são fundamentais para o fortalecimento da economia do estado. Em abril deste ano, a Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri) realizou um curso, com duração de três dias, para capacitação e impulsionamento das agroindústrias familiares de Rondônia. 

A capacitação foi oferecida com a intenção de aperfeiçoar as produções e melhorar as estatísticas do estado quanto à produção queijeira. Para Rafaela Massini, assessora da Seagri,  “Foi um grande marco para eles como produtores de queijo. Muitas vezes eles tinham que ir para fora procurar por cursos de produção queijeira, e a gente forneceu isso em Ji-Paraná. Foi muito legal. Foi muito gratificante pra gente do Estado”, comenta.

Ao investir em capacitação, o Estado promove também o crescimento das agroindústrias, que ganham visibilidade e credibilidade tanto no mercado interno quanto no externo. O cenário favorável tem impulsionado o surgimento de novas agroindústrias, que estão começando a trilhar seu caminho no mercado com inovação e potencial de desenvolvimento.

Localizada em Guajará Mirim, a agroindústria “Por do Sol” está em crescimento. Fundada há cinco anos, a produção é predominantemente familiar. Segundo Sérgio Nunes, sua esposa, filha, genro e sobrinho trabalham com ele. A produção é variada, com queijo coalho, queijo minas frescal e queijos da região cozidos, além de produzirem também manteiga e leite pasteurizado, que costumam entregar nas escolas estaduais da região. 

Nunes comenta que a filha e a esposa participaram do curso oferecido pela Seagri, acrescentando que a Secretaria sempre apoia o negócio. Há um ano,  a família recebeu uma série de maquinários. “Recebemos há um ano e pouco, da Seagri, uma bomba de transferência de leite, um tanque pulmão, um tanque para salga do queijo e uma câmara fria seis portas”, descreve.

Investir no aprimoramento da produção é fundamental para o crescimento de qualquer negócio. Quando a produção precisa ser em grande escala, os investimentos aumentam. Poder contar com o estado nesse quesito é uma grande ajuda para os produtores, principalmente quando o negócio está em crescimento. 

Segundo Nunes, seus queijos são muito procurados e as vendas são constantes. Mesmo com as máquinas oferecidas a ele, foram necessários muitos investimentos do próprio bolso. O produtor comenta que além de máquinas para trabalhar com leite pasteurizado, separar o soro do leite para fazer manteiga e empacotar a vácuo, precisou construir um prédio para a produção. “Já tenho investido ali 250 mil reais, entendeu? Um investimento um pouco alto para uma pequena agroindústria, mas graças a Deus, está deixando o retorno, devagar a gente chega lá”, finaliza.

A agroindústria Pôr do Sol também já participou da ConQueijo. Em 2022, a família conquistou o 3º lugar na categoria de queijo coalho, mostrando a qualidade e o sabor que marcam sua produção artesanal. No ano seguinte, 2023, a conquista foi ainda maior: o 1º lugar na mesma categoria, coroando o trabalho dedicado de todos. Em 2024, não participaram da competição. Este ano, a família está de volta à ConQueijo.

A atividade leiteira em Rondônia tem se consolidado como um setor de grande relevância para a economia estadual. De acordo com dados oficiais referentes ao ano de 2023, o valor bruto gerado por toda a cadeia produtiva do leite nas propriedades alcançou R$1,1 bilhão.

Esse montante representa o peso expressivo do setor dentro da economia local. O desempenho destaca não apenas a força da pecuária leiteira, mas também a importância das agroindústrias ligadas ao leite, que agregam valor à produção primária e impulsionam o desenvolvimento regional. A estimativa foi mencionada pelo professor Otacílio Carvalho, do curso de Economia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

Carvalho comenta a variação no número de agroindústrias nos últimos anos, destacando que esse movimento se deve tanto ao fechamento quanto à abertura de novas unidades no estado. Segundo ele, embora os dados oficiais apontem oscilações, é possível que o número real de agroindústrias em funcionamento seja ainda maior. Isso porque muitos empreendimentos familiares têm se estruturado a partir do PROVE (Programa de Verticalização da Produção Agropecuária), que permite ao agricultor familiar abrir sua própria agroindústria, seja de forma individual, em cooperativas ou por meio de associações.

“O produtor de leite precisa ter as condições, o amparo, o apoio e a flexibilização tributária, tudo dentro das normas, para abrir o estabelecimento, para então produzir o leite e beneficiar esse leite na sua própria agroindústria. Ao longo dos últimos anos vários laticínios já foram abertos a partir desse programa, principalmente quem trabalha com iogurte e alguns queijos artesanais. Tem até queijos premiados na Rondônia Rural Show e em outros eventos”, afirma o professor.

O economista diz também que, anteriormente, o setor de laticínios era um dos mais visados pelas políticas públicas voltadas ao campo, mas hoje esse cenário mudou. O Estado tem direcionado mais apoio a outras cadeias produtivas, como soja, milho e café, que apresentam maior potencial de exportação e retorno econômico. Para Carvalho, a cadeia do leite merecia mais atenção. “Eu acho que o Estado deveria olhar com mais carinho, inclusive expandir a nossa pecuária de leite para outras regiões, dado o poder transformador dela. Então a cadeia do leite e a agroindústria cumprem um papel fundamental, geram empregos, geram renda, só no mercado primário são mais de 26 mil famílias que dependem dessa atividade e mais de 40 agroindústrias, algumas gerando quase 100 empregos. Outras pequenas, além de gerarem empregos para a família em si, geram outros três, quatro empregos, então tem um poder muito transformador”, finaliza.

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