Energias renováveis se tornam opção para moradores do Cone Sul
Fezes de suínos e luz solar estão entre as alternativas para produção da energia elétrica
por Jéssica Rodrigues

Após a privatização da energia em Rondônia, em 2018, a Energisa se tornou alvo de reclamações, liderando o ranking estadual do Procon. De acordo com os dados do primeiro semestre de 2019, os motivos para as denúncias se devem ao aumento repentino das taxas cobradas, à qualidade dos serviços oferecidos e ao atendimento dos clientes. Como saída, moradores do Cone Sul adotaram o uso de energias limpas, também chamadas de renováveis ou sustentáveis, com placas solares e biodigestores. Elas são produzidas com recursos naturais e não causam danos ao meio ambiente. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), entre 2016 e 2018, as instalações de placas fotovoltaicas teve o aumento de 0,1% para 1,4%. Já o uso de biodigestores marcou 8,2%.
O chacareiro Adriano José Bandieri, de 35 anos, possui restrição com a rede elétrica em sua residência, na área rural de Vilhena. A alternativa veio através da energia por biodigestor, no período em que estava desenvolvendo seu trabalho de conclusão do curso de Administração. A opção faz uso de fezes suínas para produção de uma substância altamente inflamável, que pode ser usada em um motor à combustão para gerar energia elétrica.
O lavrador corumbiarense Deusdete Tavares da Silva, de 74 anos, optou pelas placas fotovoltaicas para produção de energia, por morar há quase 2 km do local onde passa a distribuidora. O morador conheceu a possibilidade através de um amigo que já utilizava este tipo de energia em seu sítio. Por residir em uma terra fundiária, era necessária uma ligação elétrica com o sítio da frente para a passagem da rede. Com a negativa do proprietário, a solução foi a instalação dos equipamentos que transformam a luz solar em energia elétrica, através de placas no telhado da casa. Elas captam, transformam e distribuem energia para os eletrodomésticos de Deusdete. Os principais benefícios dessa alternativa são a ausência de mensalidades pelo fornecimento, o uso de fontes inesgotáveis e limpas, além da possibilidade de instalação em áreas mais remotas.
O sistema de placas solares está em pleno funcionamento há pouco mais de três meses, mas possui algumas restrições. Os aparelhos como chuveiro elétrico e ferro de passar não podem ser utilizados, pois necessitam de alta voltagem. Caso haja a necessidade da utilização desses eletrodomésticos, o ideal é a ampliação do projeto com o uso de mais placas e a utilização de reservatório térmico.
O projeto de energia renovável instalado na residência de Deusdete possui seis placas solares, quatro baterias e funciona por meio do sistema off grid. Ele se baseia no acúmulo de cargas em baterias para o período noturno, dias chuvosos ou nublados. Para o seu uso, não é necessário uma ligação com redes elétricas, o que dispensa o pedido de licença para implantação na distribuidora. A elaboração foi realizada pelo técnico em eletrônica Jaime Ribeiro, que trabalha com instalação de placas solares há seis anos.
BIODIGESTOR
Os biodigestores são estruturas projetadas para a degradação da biomassa sem qualquer tipo de contato com o ar. Eles possibilitam que as bactérias iniciem o processo de decomposição acelerada. Com a ação desses microrganismos, a decomposição da matéria produz um gás chamado de biogás, que fica armazenado na área livre da cúpula do biodigestor. Após essa transformação, o biogás é canalizado e pode ser usado para produção de energia elétrica, gás de cozinha e biofertilizante. Os três principais modelos utilizados no mundo são: o indiano, vedado por uma espécie de tampa de ferro; o chinês, em alvenaria; e o canadense, mais utilizado, coberto por um tipo de lona.
Atendendo a legislação ambiental, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), campus Colorado, possui desde 2013 um biodigestor canadense como solução para o tratamento dos resíduos de suínos produzidos na instituição. Por não ser canalizado, o gás é queimado de forma segura e sustentável. O que é utilizado pela unidade é o biofertilizante, aplicado em experimentos de pastagens nos cursos de Agronomia, Gestão Ambiental e Zootecnia.






