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Mês que marca prevenção ao suicídio alerta sobre a necessidade de atenção nas redes sociais

Apesar de cooperarem para o combate ao suicídio, a sensibilidade dos usuários só se manifesta durante setembro

Por Alice Bastos | Orientação: Thales Pimenta, professor de Jornalismo na UNIR

700 mil mortes por suicídio são registradas anualmente no mundo, de acordo com as últimas estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicadas em 17 de junho de 2021 no relatório “Suicide worldwide in 2019”. Esse número qualifica o fenômeno como quarta causa mais frequente de óbitos entre pessoas de 15 a 29 anos de idade. Para se ter uma noção da seriedade do assunto, há mais pessoas morrendo em decorrência do suicídio do que de HIV/AIDS, malária ou câncer de mama.

Neste mês de setembro, o assunto é abordado nas redes sociais de forma leve e sensível. Plataformas como Facebook e Instagram usam sua influência para a prevenção do suicídio, gerando inspirações e incentivos à busca de ajuda. O Facebook oferece uma ferramenta de prevenção diretamente do perfil de um amigo. Solicitando a opção “Eu quero ajudar”, a plataforma recebe uma notificação e envia uma mensagem à pessoa oferecendo ajuda, como a oportunidade de conversar com alguém. No Instagram também há um recurso de prevenção ao suicídio. Ao visualizar um post que indica tendências suicidas, qualquer pessoa pode usar a ferramenta de denúncia no menu da foto e, em alguns minutos, a pessoa do post denunciado vai receber uma mensagem de ajuda.

Apesar das mídias sociais cooperarem para o combate ao suicídio, a sensibilidade dos usuários quanto ao tema só se manifesta durante o mês de setembro. Uma análise realizada com mais de 1 milhão de menções ao suicídio nas redes sociais pela Agência Nova/SB, em abril e maio de 2020, revela que 18,3% das postagens eram falas negativas ou preconceituosas, como “quem tem depressão não fica em rede social tentando aparecer” ou “quem quer se matar não avisa”. A pesquisa mostra ainda que algumas das postagens analisadas incentivavam os usuários a tirarem a própria vida.

As redes sociais podem ser prejudicial para a saúde psicológica de jovens e adolescentes, se utilizadas de maneira intensa e associadas a problemáticas como cyberbullying, exposição excessiva de intimidade, percepção aumentada da felicidade e expectativas não realistas sobre corpo e modo de vida, segundo a professora Kelly Vedana. Atuante nas áreas de Suicidologia, Enfermagem Psiquiátrica, Literacia e Promoção da Saúde Mental, a pesquisadora faz parte da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP). A acadêmica reforça ainda que, na internet, conteúdos pró-suicidas podem ser produzidos de maneira anônima e são facilmente acessados por pessoas em situações de vulnerabilidade.

Essas atitudes vão contra o que dizem especialistas em saúde mental, que recomendam nunca menosprezar a dor de alguém. O acolhimento e o ouvir são as melhores formas de mostrar à pessoa que ela precisa de ajuda profissional. O suporte da família e de amigos também é de extrema importância e a atenção a qualquer mudança no padrão de comportamento da pessoa em sofrimento psíquico pode salvar sua vida. Essa atenção é essencial, principalmente para quem já tentou suicídio alguma vez.

É importante destacar que somente psiquiatras e psicólogos estão habilitados para realizar anamnese, diagnóstico e assistência. A presidenta da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), Renata Figueiredo, diz que áreas mais complexas, como felicidade e bem-estar, requerem um profundo conhecimento dos transtornos mentais e comportamentais. Figueiredo ressalta ainda que atuar sem a devida qualificação oferece riscos, pois, quando se trata de saúde mental, parte-se do princípio de que nenhuma intervenção é inofensiva ou livre de efeitos colaterais.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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