CAPOEIRA: projeto insere crianças e adolescentes em atividade social
por Mizellen Amaral
O Núcleo de Atividades Sociais da Cultura Escrava (NASCE) está prestes a completar 20 anos, em 2020. Organizado pela família Belarmino, a ação foi repassada de pai para filho por quatro gerações. O projeto está sob responsabilidade do instrutor de capoeira e servidor público, Odair Belarmino, de 40 anos, popularmente conhecido como Ki-Suco. Praticante do esporte desde a sua infância, há duas décadas guia seus alunos através de atividades para preservação da cultura afro.
O NASCE começou como uma alternativa para ocupar o tempo ocioso de jovens e crianças vilhenenses, com um caráter de inclusão social. Atualmente, conta com capoeiristas de todas as idades. “A capoeira é para todos, não tem idade nem peso. É uma ferramenta positiva na questão da equiparação, na inclusão. Aqui é negro, é branco, é índio, independe da questão religiosa, independe da sua forma de pensar, todos são bem-vindos”, afirma Ki-Suco.

A etapa mais aguardada pelos alunos é a graduação em cordas, já conquistada por 2/3 dos praticantes. O estudante Rian Martins, de 17 anos, sente paixão pela capoeira e tem orgulho da sua trajetória no projeto NASCE. “Aqui nós aprendemos a ter companheirismo, humildade entre os alunos e cooperação durante os treinos”, diz. As três qualidades são replicadas pelos demais colegas, que explicam também a transformação social que o projeto causou em suas vidas.
As atividades, idealizadas pelo instrutor, acompanham o nível de cada estudante. Ministradas em três dias diferentes da semana, as aulas são realizadas de acordo com a faixa etária da turma para evitar esforços exaustivos. Com alongamentos, movimentos e uma roda, os aprendizes cantam e praticam golpes durante os encontros. O desempenho é individual e autoavaliável, com cada integrante comemorando suas conquistas e traçando seus objetivos na prática da capoeira.

Os capoeiristas cantam os versos que o instrutor ensina, trazendo a força de seus ancestrais. Com sinais e olhares, Ki-Suco os guia entre notas e movimentos para dentro da roda. “O canto traz todo um legado, traz uma história. Cada tempo muda a sua forma de se expressar através da música. Antigamente, o negro era escravo, então, nas poucas horas que tinham de folga, eles se expressavam através do canto. E isso se manteve nas rodas até hoje”, explica o mestre.
Além das aulas práticas que envolvem golpes, canto e dança, o projeto NASCE também explora a história relacionada à capoeira. Como parte da construção da identidade nacional, ela possui traços marcantes de superação e luta dos negros ao vencerem a escravidão. Essa essência é repassada por Ki-Suco para os alunos, que relembra os passos de seus ancestrais na busca pela liberdade. Em outubro de 1890, a capoeira foi criminalizada pelo Decreto N° 847 do Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil. A Lei só foi revogada em 1937, 47 anos depois, sendo usada como amparo para as prisões de quem praticasse capoeira.
“Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal” (Código Penal Brasileiro, outubro de 1890)
Para Ki-Suco, que descende da quarta linhagem de escravos, trazer um projeto como o NASCE para a sociedade vilhenense é permitir que o conhecimento sobre a cultura afrodescendente se perpetue. “No sofrimento que as famílias passaram antigamente quando eram escravos, não tinham essa liberdade que temos hoje. Depois que foi legalizada, ela começou a ter uma visibilidade e hoje ganhou o mundo”, narra.
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A Capoeira foi declarada em 2014 Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas Para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). No Brasil, foi instituído o dia 03 de agosto como o Dia da Capoeira. Durante sua luta histórica pela sobrevivência, a luta/dança ganhou o status de esporte após a apresentação do saudoso Mestre Bimba para o então Presidente do Brasil, Getúlio Vargas, em 1937.
SERVIÇO
O quê: Núcleo de Atividades Sociais da Cultura Escrava (NASCE)
Quando: Terças e quartas, das 18h às 19h | Sábado, das 10h às 11h
Onde: Ginásio Municipal Geraldão, Avenida Paraná, Bairro Alto Alegre
Quanto: Gratuito
Quem: Instrutor Odair Belarmino (69) 98429-2687 | Graduada Maninha (69) 8473-1275
Realização: Grupo NASCE









