Especial

A força por trás das Mães Atípicas

Duas mães relatam suas experiências com a maternidade atípicas
Por Gian Vitor, Gabriel Moreira e Jorge Fernando
Imagem: Acervo Pessoal de Tielen Knightz (esquerda) e Eliane Guatel (direita)

A maternidade é uma experiência desafiadora e quando se trata de mães de crianças atípicas os desafios podem ser ainda maiores. As mães atípicas desafiam os estereótipos. Em um mundo onde a maternidade é muitas vezes associada a um conjunto de normas rígidas, essas mulheres abrem caminho para uma nova narrativa de criação de filhos. Elas enfrentam barreiras sociais e buscam garantir os direitos e o cuidado adequado para seus filhos

Eliane Guatel (37)  é empreendedora e mãe de Maria Eduarda, austista nível 3 de suporte. Guatel explica que no início, quando recebeu o diagnóstico, sabia que seria desafiador. Ela relata os desafios para proporcionar uma educação de qualidade para a filha. 

“Ao conhecer mães que enfrentam o mesmo problema, podemos unir forças, o que torna tudo melhor” – Eliane Guatel

Fonte: Acervo pessoal de Eliane Guatel

“Passei por um período de depressão e, naquele momento, busquei ajuda médica. Recorri a medicamentos e fiz terapia. Hoje, no entanto, encontrei meu equilíbrio por meio do convívio com outras mães e do empreendedorismo. Empreender, para mim, é sinônimo de viver — é a minha terapia diária”, relata Guatel.

Eliane já enfrentou problemas tanto no acesso à educação quanto nos atendimentos de saúde. Sua história ganhou visibilidade após ser compartilhada nas redes sociais, onde encontrou uma rede de apoio.

Para Tielen Knightz, servidora pública e mãe atípica, as dificuldades se dão aos preconceitos e maus olhares que são refletidos pela sociedade. Knightz também acredita que, ao não ter informações adequadas sobre o autismo, a mão sente um peso impactante ao receber o diagnóstico do filho. Segundo ela, o apoio que é dado a cada mãe espanta  a solidão.

“Acredite no potencial do seu filho, o diagnóstico não é uma sentença! Enquanto meu filho está na terapia, eu tiro esse horário para cuidar de mim”, conclui.

Fonte: Acervo pessoal de Tielen Knightz

Guatel e Knightz enfrentam preconceitos por terem famílias atípicas. As famílias atípicas são as que têm parentalidade com pessoas diagnosticadas com alguma alteração cognitiva (quando sente dificuldades no processo de informações, incluindo atenção, raciocínio e memória) ou neurológica (quando há alguma anormalidade no cérebro, medula espinhal, nervos ou terminações nervosas). Ou seja, os “atípicos” são pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Síndrome de Tourette (distúrbio do sistema nervoso que envolve movimentos repetitivos ou sons indesejados), Dislexia (distúrbio de aprendizagem pela dificuldade de leitura), entre outros. Para eles, o desenvolvimento social e educacional é um  desafio. A adaptação e a aceitação nos meios de convivência podem trazer frustrações e dificuldades.

Para esta reportagem, foi realizada uma pesquisa com 27 mães atípicas. Os resultados revelam que 12% delas enfrentam dificuldades no acesso à educação, principalmente devido à falta de suporte adequado nas escolas para crianças com TEA. Outras 15% das mães relataram obstáculos no acesso à saúde, como a dificuldade para conseguir consultas e atendimentos especializados.

Gráfico: Gabriel Moreira Coleta de dados: Gian Souza

Abordando a diversidade: Desafios e Estratégias no Atendimento a Crianças Atípicas

Dentro da psicologia, uma criança atípica requer um procedimento de educação um pouco mais intenso. É o que diz a psicóloga Brenda Sabrina Moraes, pós-graduada em saúde mental. Avaliações clínicas permitem compreender quais são as maiores necessidades e facilidades para estas crianças.

Jogos interativos como quebra-cabeças, jogo da memória e brinquedos são utilizados para avaliar a atenção, a interação social, o comportamento e as preferências da criança. Essas atividades também aproximam a família do acompanhamento psicológico, promovendo maior participação e acesso a informações sobre o desenvolvimento da criança atípica.

A psicóloga alerta para alguns mitos e equívocos enfrentados pelas famílias atípicas: “É importante entendermos que uma criança atípica está em constante evolução. Há ainda alguns questionamentos sobre a família mimar demais a criança e que isso atrapalharia ou resultaria do diagnóstico. Isso é mito, crianças atípicas nascem atípicas, a educação fomentou o processo de evolução e desenvolvimento. As crianças, dentro de suas especificidades, possuem diversos comportamentos/situações que podem ocasionar crises: sensibilidade a sons, texturas, cores, então não são frescura…”, conclui Moraes.

Duas das maiores dificuldades são o julgamento e o estigma social. Mães atípicas frequentemente enfrentam olhares de reprovação ou são questionadas sobre sua capacidade de educar e cuidar de seus filhos. Isso pode ser extremamente desgastante e afetar sua autoestima e bem-estar emocional. Oferecer um espaço seguro para que possam compartilhar suas experiências, buscar apoio profissional e conectarem-se com outras mães em situações semelhantes pode fazer  a diferença.

Além do comum: Desvendando o Termo ‘Atípico’ e suas Significações

O uso do termo “atípico” destaca a importância de uma abordagem individualizada para o suporte e atendimento às crianças. Reconhecer a singularidade de cada criança é fundamental para garantir que suas necessidades sejam adequadamente compreendidas e atendidas. Essa abordagem individualizada pode envolver intervenções terapêuticas, apoio educacional especializado, adaptações no ambiente ou estratégias de ensino personalizadas.

O termo “atípico” reconhece que cada criança é única e pode apresentar uma gama de características e necessidades. Ele enfatiza que não há um padrão único de desenvolvimento ou comportamento que todas as crianças devem seguir. Em vez disso, as crianças atípicas são reconhecidas como tendo características distintas, seja em termos de habilidades, desafios, temperamento ou estilo de aprendizado.

As pessoas atípicas também podem ser chamadas de euroatípicos, em oposição aos neurotípicos. 

Neurotípico é um termo usado para falar de pessoas que apresentem o desenvolvimento neurológico típico, ou seja, dentro dos padrões regulares e esperados para cada idade e sem nenhum transtorno diagnosticado. De forma literal, a palavra “neurotípica” significa “neurologicamente típico”. Isto é, sem prejuízos neurológicos. Podemos usar o termo para falar de algum adulto ou criança que não apresenta alteração ou dificuldade cognitiva significativa.

Neuroatípico, é usado para falar de pessoas que apresentam alteração em seu funcionamento cognitivo, neurológico ou comportamental. O termo pode ser utilizado para se referir a pessoas com TEA, TDAH ou outras condições invisíveis, ou seja, pessoas que apresentam alguma alteração no funcionamento cognitivo, neurológico ou comportamental.

Dificuldades enfrentadas pelas mães de filhos atípicos

Cada mãe atípica é única e suas experiências podem variar dependendo de sua condição específica e do ambiente em que vive. De acordo com o blog Amigo Panda fundado por Thays Visachi, existem algumas dificuldades comuns que as mães de crianças atípicas podem enfrentar:

  • Estigma e julgamento social: mães atípicas muitas vezes enfrentam estigma e julgamento da sociedade devido às suas características ou condições. Isso pode levar a sentimentos de isolamento, ansiedade e baixa autoestima.
  • Sobrecarga e exaustão: essas mães muitas vezes têm demandas extras em suas vidas, como consultas médicas frequentes, terapias ou cuidados especiais. Isso pode levar a uma sobrecarga física e emocional.
  • Dificuldade na criação de seus filhos: Dependendo da condição e das características, elas podem enfrentar desafios específicos na criação de seu filho, lidar com comportamento desafiador, dificuldade de estabelecer rotinas.
  • Barreiras de acessibilidade: Mães atípicas com deficiências físicas podem enfrentar barreiras de acessibilidade em locais públicos e em instalações de cuidados infantis. Essa barreira pode dificultar o acesso a serviços essenciais.

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