Dia das Mães movimenta comércio e destaca protagonismo de mulheres empreendedoras em Rondônia

Comércio local cresce com produtos criativos feitos à mão; mulheres lideram empreendimentos no setor de MEIs

Por Alisson Branco e Beatriz Ribeiro

Com a chegada do Dia das Mães, no próximo dia 11, feiras de artesanato e mercados locais ganham força em Rondônia. A data, uma das mais importantes do ano para o comércio, é marcada pelo protagonismo de mulheres empreendedoras que enxergam na ocasião uma oportunidade estratégica para alavancar as vendas e fortalecer seus negócios.

Segundo dados do Sebrae Rondônia e da Junta Comercial do Estado de Rondônia (Jucer), de janeiro a outubro de 2024, o estado registrou a abertura de 22.936 negócios, ultrapassando a quantidade de 22.155 alcançada no mesmo período de 2023. O crescimento é de 3,5%,  a maioria de microempreendedores individuais (MEIs). Atualmente, há 95.857 MEIs registrados em Rondônia, dos quais 41.489 são mulheres – o equivalente a 43,3% do total. Em nível nacional, os MEIs representam 69,4% das empresas e 18,8% das ocupações formais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre os negócios que se destacam nessa época está o da artesã Juliana Moraes, proprietária da loja ‘Coisa Bonita’, especializada na produção de velas decorativas. Ela afirma que o Dia das Mães supera até mesmo o Natal em volume de vendas. “Também passamos a trabalhar com brindes corporativos — empresas compram para presentear seus clientes e colaboradores. Isso tem ampliado nosso funil de vendas além do varejo”, relata. Para Moraes, o trabalho manual tem um valor que vai além do produto.

“Mais do que valorizar o artesanato, é valorizar o ser humano e sua capacidade de criar com as próprias mãos”, comenta Moraes.

Feiras e programas fortalecem o empreendedorismo feminino

Eventos como a Feira da Mulher Empreendedora, realizada de 2 a 10 de maio no Porto Velho Shopping, e a 1ª Feira Mãe Empreendedora, no dia 9 de maio, no pátio do Palácio Rio Madeira, evidenciam o crescimento do empreendedorismo feminino em Rondônia. Juntas, as feiras reúnem mais de 20 expositoras.

Programas voltados ao empreendedorismo feminino têm ganhado destaque em Rondônia. Um exemplo é o Sebrae Delas, iniciativa que já capacitou mais de 5 mil mulheres no estado. Outra medida de incentivo é o Proampe Delas, promovido pelo governo estadual, que oferece microcrédito com juros reduzidos para mulheres empreendedoras em situação de vulnerabilidade.

Bélit Regis, microempreendedora, produz kits de perfumes e cestas decorativas. Ela destaca a importância do apoio familiar. “Meu esposo ajuda nas entregas, e meus filhos participam na montagem dos kits. É um trabalho coletivo. E 90% do meu público são mulheres”, afirma. Para Régis, o empreendedorismo também é uma forma de cura e transformação pessoal. “Já estive do outro lado, sem ânimo, em depressão. Hoje, ajudo outras mulheres a se cuidarem e se valorizarem. O empreendedorismo me devolveu meu brilho”, concluiu. 

Comércio aquecido, mas com desafios

De acordo com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), cerca de 126,9 milhões de brasileiros devem ir às compras neste Dia das Mães. A data deve movimentar R$ 37,75 bilhões no comércio e em serviços. Os produtos mais procurados são perfumes (47%), roupas e calçados (41%), cosméticos (26%) e chocolates (23%).

Segundo o presidente da CNDL, José César da Costa, o gasto médio com presentes deve ser de R$ 298 (reais). Entre as classes A/B, esse valor sobe para uma média de R$ 351 (reais). Apesar da movimentação no comércio, 32% dos entrevistados afirmaram estar com contas em atraso, e 27% admitiram gastar mais do que podem nessa época do ano. As informações são do site da CNDL, que realizou entrevistas com mais de 1.361 consumidores — homens e mulheres — das 27 capitais brasileiras.

As empreendedoras, no entanto, ainda enfrentam diversos obstáculos. Juliana Alvin, que atua na produção de cestas de café da manhã, ressalta a necessidade de maior apoio institucional. “O governo poderia oferecer mais linhas de crédito para a compra de equipamentos”, sugere. Já Juliana Moraes destaca a falta de visibilidade e o alto custo logístico como barreiras. “Precisamos de mais espaços para mostrar nosso trabalho. O frete em Rondônia é muito caro e afeta diretamente o preço dos insumos”, afirma.

Crescimento contínuo dos MEIs

Uma mudança estrutural na economia do estado está em curso, impulsionada principalmente pelo setor de serviços e pela força do empreendedorismo feminino. Segundo o economista Otacílio Moreira de Carvalho, “a pandemia evidenciou o protagonismo da mulher, que, muitas vezes, assumiu a liderança da família e dos negócios, incentivando até seus companheiros a empreender”. Atualmente, mais de 43% dos Microempreendedores Individuais (MEIs) em Rondônia são mulheres, atuando tanto em áreas tradicionais, como confecção e beleza, quanto em setores antes dominados por homens, como o agronegócio e pequenas indústrias.

Carvalho destaca que esse movimento representa mais do que inclusão social: trata-se de uma verdadeira transformação econômica. “Temos exemplos de mulheres à frente de agroindústrias locais que já alcançam o mercado nacional, como a Cocada Koly e fábricas de iogurte”, afirma. No entanto, ele alerta para a necessidade de políticas públicas mais estratégicas, capazes de identificar novos nichos de mercado e evitar a saturação de setores já consolidados. Para o economista, ainda falta um direcionamento mais claro para ampliar as oportunidades de atuação das mulheres empreendedoras.

Datas comemorativas, como o Dia das Mães, também são fundamentais para os pequenos negócios. “Essas datas representam o 13º salário para muitas famílias e movimentam milhões em Rondônia”, ressalta. Para 2025, espera-se uma movimentação de quase R$ 14 bilhões no país apenas no Dia das Mães, sendo grande parte desse volume proveniente de negócios liderados por mulheres. “Esse cenário reflete que o avanço dos MEIs, além de fortalecer a economia local, está profundamente ligado à ascensão feminina no mercado empreendedor”, conclui Carvalho.

Fotografia da capa: Beatriz Ribeiro