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Comunidades indígenas perdem estudantes do ensino superior para COVID-19

por Juliana Irache

Três alunos indígenas da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) morreram vítimas da COVID-19. Formados em Licenciatura em Educação Básica Intercultural, Alexandre e Renato Suruí faziam mestrado na instituição e morreram em agosto de 2020 e março de 2021. Orowao Pandram Kanoê Oro Mom, estudante do mestrado em Letras, faleceu em janeiro de 2021.

Os dois membros Suruí atuavam como professores em suas aldeias, na Terra Indígena Sete de Setembro. Eles eram “grandes líderes e pessoas muito importantes” para o seu povo, como relatam os familiares. Embora morasse em contexto urbano, Orowao pertencia à aldeia Sagarana, que fica na região de Guajará-Mirim.

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A morte de um estudante indígena de ensino superior é triste e dolorosa, pois o seu valor para a comunidade é imensurável. Ele se torna uma pessoa muito ativa para questões indígenas, que busca soluções para os problemas do seu povo.

O professor Alexandre Suruí era um grande pesquisador, chegando a ganhar o Prêmio Respostas para o Amanhã, evento promovido pela Samsung (https://respostasparaoamanha.com.br/o-premio/edicoes-anteriores). “Ele era uma pessoa muito importante dentro da aldeia”, lembra Paline Suruí, irmão de Alexandre.

Estevão Suruí, filho de Renato, conta que o pai foi o primeiro professor na Terra Indígena Sete de Setembro. Como ele sempre os incentivou a estudar, Estêvão e sua mãe fazem faculdade na UNIR. Já a prima de Orowao, Márcia Cassupá, exalta sua importância para os familiares. “Orowao era único, era muito amado, um exemplo de pessoa. A família está tentando seguir em frente, mas ainda não superou a perda”, comenta ainda muito abalada.

A busca por uma graduação fora da sua comunidade requer muita coragem. O indígena precisa viver fora dos seus costumes para obter outros conhecimentos para seu povo. “É muito importante que um jovem indígena esteja em uma graduação e buscando conhecimentos de fora para se desenvolverem e atuarem dentro da comunidade”, explica a presidenta da Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (AGIR), Leonice Tupari.

O estudante leva o fortalecimento para a base. Isso aumenta a necessidade de inserir mais indígenas no ensino superior, sejam homens ou mulheres. Segundo Tupari, o número de estudantes do seu povo ainda é baixo, mas o importante é já ocuparem esse espaço. “Na pandemia, os estudantes indígenas receberam um pequeno apoio apenas da UNIR”, revela a presidenta da AGIR. Os outros órgãos responsáveis pela saúde e educação indígena não deram suporte.

Iliandro Sabanê mora na aldeia Sowaintê, em Vilhena, e é estudante do curso Licenciatura em Educação Básica Intercultural da UNIR. Segundo ele, os colegas de curso resistiram em acompanhar as aulas remotas no início da pandemia, com muitos optando pela desistência. O principal motivo é a falta de acesso à internet nas aldeias, e as que possuem apresentam péssima qualidade.

A minha maior dificuldade foi eu sair da minha comunidade e ir para um outro município mais distante ainda. Chegar lá sem conhecer nada, sem ter experiência de vida em como é morar em uma cidade, essa foi uma das minhas dificuldades. E é óbvio, a maior dificuldade é a financeira”, relata Iliandro.

Iliandro Sabanê faz graduação na UNIR. Fonte: Arquivo pessoal

O preconceito é outro desafio encontrado pelos estudantes indígenas. Para Iliandro, o campus de Ji-Paraná da UNIR é mal visto por ser frequentado por muitos estudantes indígenas. Os alunos sofrem preconceito na universidade de outros departamentos, professores e alunos. O seu objetivo é exatamente fortalecer seu povo, ao fazer pós-graduação e trabalhar com indígenas para contribuir de alguma forma com a comunidade.

O curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural da UNIR busca formar e habilitar professores indígenas para o ensino fundamental e médio. A intenção é atender as demandas e necessidades de cada território indígena do estado. O curso, localizado no campus de Ji-Paraná, tem professores multidisciplinares, de diversas áreas do conhecimento. O Departamento de Educação Intercultural (DEINTER) pensa estrategicamente as políticas públicas de educação voltadas aos povos indígenas de Rondônia, Sul do Amazonas e Noroeste de Mato-Grosso.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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