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VEGETARIANOS: estilo alimentar cresce no país

por Aline Mattos

Os adeptos da alimentação sem carne cresceram 14% durante os últimos 6 anos no Brasil, aponta a pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). Divulgado em 2018 pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), o estudo revela que 29,2 mil brasileiros se declaram vegetarianos. A proteção aos animais, a melhora da saúde e a consciência ambiental são os principais motivos que influenciam as pessoas a aderirem a esse estilo alimentar.

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Franciele Fachin, de 25 anos, tinha curiosidades sobre o assunto desde a adolescência, mas só parou com o consumo de carne há um ano. Antes de se tornar vegetariana, assistiu a documentários e a vídeos na internet sobre a criação e abates de animais para consumo humano, quando realmente se decidiu.

“Fiquei muito impactada! Acho que os animais não devem morrer para nos alimentar. Acredito que eles são iguais a gente, têm sentimentos, sentem dor, e não foram feitos para nosso uso. Eu gosto muito de animais, então não quero comer eles”, revelou.

A instrutora de yoga, Gisele da Silva, de 42 anos, é adepta do vegetarianismo há 16 anos. O fato de não comer carne está ligado principalmente ao ahimsa, um dos preceitos da prática Indiana. “Ahimsa quer dizer a prática da não violência, então a ideia é que você não violente os animais. Não precisar matar para comer”, explicou.

Além disso, Gisele aponta o impacto ambiental que a produção de carne produz. Franciele também levou esse aspecto em consideração. “A criação de gado para consumo humano agride muito o planeta, pois causa desmatamento, utiliza muita água, e produz gazes que contribuem para o aquecimento atmosférico”, disse Franciele.

Já Vitor Gomes, de 24 anos, parou de comer carne há 9 meses em busca de melhorar a saúde, inspirado em um amigo vegetariano. Vitor tem gastrite e, depois de retirar o alimento do cardápio, não sentiu mais os sintomas. “Tive duas intoxicações alimentar por causa de hambúrguer. Na verdade, meu amigo nunca falou nada para parar de comer carne, mas ele é muito saudável e decidi que era isso que eu queria pra mim”, esclareceu.

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BENEFÍCIOS DA ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA

Segundo a nutricionista, Daiana Bagatolli, o estilo de alimentação vegetariana realmente traz benefícios à saúde. Ela pode ajudar na proteção cardiovascular, no controle do colesterol, da pressão arterial e do peso, além de melhorar o funcionamento intestinal. Bagatolli explica que é preciso ter alguns cuidados, principalmente com carências nutricionais. ‘‘As principais carências em quem é vegetariano é ferro, ácido fólico, vitamina B12 e proteína”, apontou a especialista.

Para suprir essas necessidades, é preciso ter uma dieta rica em vegetais, principalmente legumes e folhas. É preciso também optar por alimentos de cores diferentes para abranger uma maior gama de nutrientes. As principais fontes proteicas para quem é vegetariano são as leguminosas, como feijão, grão-de-bico, ervilha, quinoa, tofu de soja e lentilha.

Mesmo com o maior número de vegetarianos no país, eles ainda encontram dificuldades na hora de comer fora de casa. A maior reclamação de Franciele é a falta de opções. “Mesmo eu sendo ovolactovegetariana, que é até mais fácil, existem restaurantes que só tem uma opção”, contou. É por esse mesmo motivo que Gisele, o marido, que também é vegetariano, e os filhos quase não saem de casa para comer. “Já saímos mais, mas o que restava para a gente era sempre pizza”, revelou.

ADAPTAÇÃO E CUIDADOS

Vitor trabalha em uma hamburgueria e bistrô, junto à esposa Bruna Perazzoli, de 29 anos, que não é adepta ao vegetarianismo. Eles recentemente incluíram no cardápio um prato Wok, que não possui ingredientes de origem animal, pensando nesse público específico. “Muitas pessoas pedem pratos sem carne, às vezes até por questão de intolerância. Estamos testando o hambúrguer vegetariano para servir também”, disse Bruna.

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Segundo Bruna, a família teve que se adaptar à nova dieta do marido. Ela cozinha um prato para ela e para os filhos e outro para ele, sem carne. “Eu não ligo. Para mim, que já trabalho na área, é mais fácil. Tem vezes que eu nem como carne, acabo indo junto com ele, não vejo problema nenhum”, contou.

Vitor e a esposa, Bruna Perazzoli, tiveram que se adaptar depois que ele passou a não comer carne. Foto: Aline Matos.
Vitor e a esposa, Bruna Perazzoli, tiveram que se adaptar depois que ele passou a não comer carne. Foto: Aline Matos.

CRIANÇAS E NUTRIÇÃO

Gisele tem dois filhos, de 5 e 8 anos, dos quais controlou a alimentação vegetariana até certa idade. Como passaram a ir à escola, começaram a comer carne. “Ficaram curiosos e eu vejo isso de uma forma muito natural, se não fica uma imposição e eu não quero impor. Acho que tem que brotar do coração deles”, relatou.

De acordo com Daiana Bagatolli, as crianças necessitam de cuidado redobrado em relação à alimentação vegetariana. Elas fazem parte de um grupo com maior necessidade de proteína, assim como as gestantes e os idosos. “A Sociedade Brasileira de Pediatria diz que a mãe precisa ter um cuidado maior, porque essa dieta pode causar carências nutricionais que, se não forem corrigidas, podem levar ao atraso no desenvolvimento da criança”, revelou.

A nutricionista chama a atenção para a importância de procurar um especialista, quando se optar pelo vegetarianismo, em qualquer fase da vida. “Pelo nosso código de ética, se um paciente vegetariano chegar até meu consultório, minha função é auxiliá-lo a suprir as carências nutricionais, jamais tentar mudar sua opção; assim como outros casos em que a pessoa tem uma dieta específica, como muçulmanos, judeus e adventistas”, disse Bagatolli.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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