DesempregoDestaqueEconomiaTrabalho

Jovens sofrem com mudanças no mercado de trabalho

Brasil é o segundo país com maior proporção de jovens que não estudam e não trabalham

Por Lídia Aciole | Orientação: Larissa Zuim

Quase 50 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos vivem no Brasil, de acordo com o relatório feito pelo Atlas da Juventude em 2021. Apesar da situação demográfica ser favorável à mão de obra e ao desenvolvimento econômico, a nação tem vivido uma desestruturação para conduzir esse grupo, principalmente no âmbito econômico e social.

O desemprego afeta aproximadamente 31% dos jovens brasileiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país é segundo com maior proporção de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que não estudam e não trabalham, correspondendo a 35,9% dos jovens brasileiros, de acordo com dados apresentados no Education at a Glance 2022, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Dados mostram a necessidade de medidas para a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Fonte: Lídia Aciole

O que explicaria tudo isso? Por que o país que concentra uma das populações mais jovens do mundo vive um dos maiores declínios no mercado de trabalho? Enquanto esse cenário gera questionamentos e desafios, as empresas não conseguem ocupar vagas disponíveis por não encontrarem perfis compatíveis à organização, fazendo com que jovens vivam o drama do desemprego.

Com o objetivo de reverter esse cenário, a Agenda de 2030 propôs a ação “Alcançar emprego pleno produtivo trabalho decente a todos”, apontando os jovens como público-alvo. Ela propõe pontos estratégicos, como o respeito aos direitos no trabalho, especialmente aqueles definidos como fundamentais, entre eles: liberdade sindical, direito de negociação coletiva, eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação e erradicação de todas as formas de trabalho forçado e trabalho infantil.

GLOBALIZAÇÃO E TECNOLOGIA MODIFICAM AS RELAÇÕES TRABALHISTAS

O mercado de trabalho e suas relações sofreram mudanças, desde a primeira revolução industrial. Com a chegada da globalização e o avanço da tecnologia, essas transformações começaram a acontecer de forma mais ágil e desafiadora, fazendo com que muitas profissões deixem de existir e outras surjam. Nas últimas duas décadas , foram criadas profissões como: gerenciador de redes sociais, analista de SEO, gerente de sustentabilidade, engenheiro de cibersegurança, dentre várias outras, exigindo capacitação e conhecimento específico.

Segundo a Gestora do Instituto Chance, Carolina Gonçalves, uma organização sem fins lucrativos de assistência social e educacional, a educação formal ainda está atrasada em relação às alterações do mercado. “Apesar de todas essas mudanças, o ensino continua sendo passado da mesma forma que as gerações anteriores. A educação não evoluiu, e não prepara os jovens para o mercado de trabalho”, informa.

Além da falta de preparação técnica, outros fatores contribuem para o desencontro entre a atual geração e as empresas, pois ao ser questionada sobre o perfil buscado pelas instituições, ela aponta a falta de interesse dos jovens. “Quando surge vaga no Instituto, se entrarmos em contato com sessenta pessoas, apenas oito atendem, e outras seis falam que vão na entrevista, mas apenas dois aparecem. O que se torna um desafio ainda maior, pois a primeira característica buscada pelas empresas é o interesse”, explica.

Se existe uma taxa muito alta de jovens desempregados, não é somente por falta de vagas, de acordo com Gonçalves. A região tem muitas, mas as pessoas não sabem como procurar e se preparar para as oportunidades que surgem. Além disso, empresas começaram a exigir habilidades comportamentais como a capacidade de se adaptar às mudanças, trabalho em equipe, inteligência emocional e muitas dessas orientações não vêm da escola e nem de casa.

GERAÇÃO Z CONSTITUEM DESAFIOS PARA O MERCADO DE TRABALHO 

O grupo de pessoas que nascem na mesma época e cultivam os mesmos hábitos são enquadradas dentro de uma “geração”. A primeira geração nascida nesse cenário tecnológico digital mais recente é a geração Z. Ela apresenta comportamentos e hábitos que, somadas à inexperiência e à falta de preparação, causam choque ao conviverem com gerações anteriores, principalmente as lideranças.

As características da geração Z também são um dos fatores que interferem no mercado de trabalho, pois muitos que conseguem um emprego não se adaptam ao modelo de trabalho convencional, como cumprimento de horas, horário inflexível e presença de hierarquia.

De acordo com o relatório do Atlas da Juventude de 2021, os jovens indicam que um “trabalho ideal” envolve flexibilidade, autonomia, estabilidade, remuneração justa e estarem envolvidos em um propósito maior. Por isso, a geração possui diferentes anseios e espera por novos modelos de trabalho.

Esse é o caso de Rute Abreu, de 22 anos, que mora no estado de Rondônia e cursa Publicidade e Propaganda. Ela trabalha como social media há três anos e está abrindo uma empresa com mais quatro colaboradoras que têm como objetivo o assessoramento de influenciadores, criação de conteúdo, gestão de tráfego e produção executiva. A ideia é que a empresa saia do convencional, gerando liberdade geográfica ao possibilitar o trabalho home office e priorizar a produtividade e entrega, ao invés de contar as horas de trabalho.

Rute conta que a iniciativa para o empreendedorismo veio das suas experiências profissionais passadas em empresas convencionais. “Trabalhei em uma agência de marketing, mas que tinha todo um padrão a ser seguido, via que minha produtividade ficava muito afetada trabalho em uma área que exige muita criatividade e percebi que quando trabalho em casa fluo bem mais”, conta.

O modelo de empresa ideal é aquele que se importa com o bem estar do colaborador, pois tudo isso interfere no desempenho final, para que todo mundo possa caminhar e levar a empresa para lugares maiores, atingindo metas e o sucesso, inclusive para as relações interpessoais”, finalizou Rute Abreu.

Yasmim Giovanna, de 16 anos, está no 2º ano do Ensino Médio e conta sobre sua primeira experiência profissional através do programa menor aprendiz. “Trabalho no setor de TI e me interessei muito por essa área e penso em segui-la. Um ambiente ideal de trabalho é onde há comunicação, pois sem comunicação acontecem muitos erros que podem comprometer o funcionamento da empresa”, diz.

Além da globalização, tecnologia, surgimento de novas técnicas e profissões, as empresas com desejo de acompanhar as transformações estão em busca de habilidades comportamentais, como inteligência emocional, proatividade e interesse.

Os jovens buscam novos modelos de trabalho não convencionais e mais atentos à qualidade de vida, valorização do funcionário com práticas que priorizem flexibilidade, autonomia, estabilidade, remuneração justa e propósito, apontando a necessidade de alinhamento e preparação de ambas partes através de políticas governamentais.

A reformulação dos modelos mais tradicionais é necessária, com atualização de métodos de aprendizagem, proximidades das instituições de ensino com o mercado de trabalho e gestão de pessoas dentro das empresas, entre vários outras tomadas de decisões.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Ir para o conteúdo