Indígenas na universidade possibilitam diálogos com diversidade
UNIR possui 4% de estudantes indígenas, concentrados em Ji-Paraná
Por Juliana Almeida
A participação dos estudantes indígenas em uma universidade reflete em questões como interculturalidade, práticas pedagógicas e qual o papel social da instituição. Os acadêmicos indígenas representam 4% dos estudantes da UNIR, segundo a Diretoria de Registro e Controle Acadêmico. A maioria se encontra no campus Ji-Paraná, onde é oferecido o curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural.
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A presença de indígenas como acadêmicos é uma possibilidade interagir e aprender com outra cultura, especialmente em nosso estado, segundo o Diretor do campus de Ji-Paraná da UNIR, João Ribeiro. “É uma oportunidade de conhecer melhor sobre os costumes e sobre a realidade indígena, principalmente em Rondônia, em que há numerosas etnias com costumes, línguas e realidades diversas”, afirma.
O curso é destinado aos povos indígenas com objetivo principal de formar professores de ensino fundamental e média para sua comunidade. A intenção é atender as demandas e necessidades do território indígena em de Rondônia, Sul do Amazonas e Noroeste de Mato-Grosso. Vinculado ao Departamento de Educação Intercultural (DEINTER), tem professores multidisciplinares, de diversas áreas do conhecimento.
O chefe do DEINTER, Genivaldo Frois, diz que o departamento pensa estrategicamente as políticas públicas de educação voltadas aos povos indígenas. A graduação, que existe desde 2009, tem abrigado muitos projetos de pesquisa com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Todos esses projetos são realizados em parceria com os povos indígenas. O DEINTER age não só na inclusão, mas na facilitação desse diálogo. O Intercultural ajuda a repensar a universidade como espaço de formação, produção de conhecimento e reconstrução. Isso é feito a partir dos resultados de diálogo que as diversidades indígenas produzem dentro do espaço institucional da universidade.
INDÍGENAS NA PANDEMIA
Três estudantes indígenas da UNIR morreram na pandemia. “É uma perda irreparável. Os povos indígenas são muito vulneráveis”, lamenta Genivaldo Frois, o chefe do DEINTER. Eles acabam se infectando quando precisam sair da aldeia. Eles vão para a cidade para comprarem em mercados ou resolverem problemas bancários.
Os alunos do DEINTER foram afetados também de outras maneiras. Muitos alunos não aderiram ao ensino remoto, por causa da realidade nas aldeias, segundo Frois. Eles não possuem dispositivos eletrônicos adequados, acesso à internet e até energia. Para os estudantes não serem ainda mais prejudicados, o curso vai oferecer as mesmas disciplinas presencialmente, quando for decretado o fim da pandemia.
A UNIR abriu edital para acesso à internet e aquisição de equipamentos para auxiliar o estudo na pandemia. Segundo João Ribeiro, diretor dos campus de Ji-Paraná, mesmo com a ajuda institucional, a internet não chega na casa de vários alunos, por causa da área do sinal. A sua gestão ofereceu ainda 400 unidades de álcool em gel para as aldeias indígenas. Além desta ação do campus, a Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis (PROCEA) e alguns servidores doaram cestas básicas.
A equipe do MORCEGADA tentou contato com a Reitora da UNIR, Marcele Pereira, mas não obteve êxito. A intenção era entender a importância dos estudantes indígenas para a comunidade acadêmica e quais são as medidas da instituição para auxiliar esses alunos.
