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Portovelhenses diminuem ida ao cinema

Metade dos entrevistados frequentava mais o cinema antes da pandemia

Por Agner Victória | Orientação: Larissa Zuim

Das salas escuras do cinema, o brasileiro passou às salas escuras em casa. A causa: a pandemia. Em 2020, vimos todos os locais que gostávamos de ir fechando, como bares, casas de show, cinemas, teatros e muitos outros. O cinema é uma das principais fontes de cultura para quem vive em Porto Velho, mas precisou fechar em abril de 2020. E surgiu aquele sentimento para os famosos cinéfilos “quando vou poder voltar a ver filmes em telonas de novo?”.

A saudade era grande, mas com o passar dos meses, vendo que a pandemia continuava, seguimos nos adaptando. Se não tinha cinema, fomos para o streaming, mesmo que não fosse a mesma experiência de ver um filme nas salas escuras com telas grandes. Tem também a economia. Um mês de streaming equivalia a um ingresso de cinema ou às vezes até menos e, às vezes, até dividimos a conta com alguém.

Depois de um longo tempo, a Covid-19 teve uma baixa de casos e os nossos lugares favoritos voltaram a abrir. Em meados de abril de 2021, as salas de cinema de Porto Velho voltaram a funcionar com certas restrições, mas desde 2022, após a imunização da população, os cinemas estão em total funcionalidade. E, então, nesse pós-pandemia, com o medo instaurado, a inflação batendo na porta, e o streaming a todo vapor, os porto-velhenses estão frequentando o mesmo tanto que antes da pandemia?

Para tentar entender melhor a ida do porto-velhense aos cinemas nesse pós-pandemia, realizamos uma enquete com alguns moradores da cidade. A enquete foi realizada no final de novembro de 2022 com 132 pessoas, através do formulário do Google, com o link enviado pelas redes sociais. A enquete foi respondida por pessoas com idade entre 16 e 65 anos, que moram na capital de Rondônia, sendo 79 mulheres e 52 homens. O principal ponto a se destacar é a frequência dos porto-velhenses na ida ao cinema.

De acordo com o levantamento, apenas 9,8% das pessoas vão duas ou mais vezes por mês assistir filmes nas grandes telas, enquanto 15,9% vão pelo menos uma vez ao mês, 22,7% vão em dois em dois meses e o mais alarmante ainda é que 51,5% estão indo uma ou duas vezes ao ano. Em uma cidade que tem uma escassez de eventos culturais, esse número de pessoas que vão pouco ao cinema é muito grande.

Gabriel Figueiredo, de 27 anos, que participou da enquete, respondeu que só vai uma vez ao mês assistir filmes no cinema. Ele conta que não é por questão de escolha, e sim porque está tudo caro e, no final, o pouco que resta da sua renda dá para desfrutar o cinema pelo menos uma vez.

“Hoje escolho muito mais os filmes que quero ver no cinema, com o preço dos ingressos e da pipoca não dá para ficar gastando com filmes que não me agradam. Antes da pandemia meu dinheiro rendia muito mais e eu conseguia ir mais vezes ao cinema, antes eu podia ser menos seletivo, diz Gabriel Figueiredo.

E não é só ele que ia mais vezes ao cinema antes da pandemia, 49,2% dos participantes da enquete dizem que frequentam mais o cinema. 44,7% dizem que não ia mais vezes do que agora no cinema. E 6,1% não souberam responder. Isso não é uma realidade só de Porto Velho, mas também do país todo. O Itaú Cultural, juntamente com o Datafolha, publicou em agosto de 2022 uma pesquisa que mostra que 90% dos entrevistados reduziram a frequência com que iam ao cinema em comparação a 2019, período antes da pandemia.

O estudo entrevistou 2.240 pessoas das cinco regiões do Brasil, e de todas as classes econômicas. Outra pesquisa realizada pelo Instituto Boca a Boca, no ano de 2022, constatou que apenas 34% dos brasileiros estão frequentando o cinema pelo menos uma vez ao mês, diferente de antes da pandemia que a média era de 80% dos brasileiros.

É um fato que brasileiros estão indo menos ao cinema depois da pandemia, para tentar entender o porquê, na enquete também foi perguntado aos portovelhenses os motivos de eles não irem mais vezes ao cinema. Não é só o Gabriel que acha que os produtos e ingressos estão mais caros, 32,6% da enquete pensa da mesma maneira. E isso não é só uma impressão deles, realmente o nosso dia a dia está mais caro, assim como o lazer do brasileiro.

De acordo com os dados do Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), a prévia da inflação oficial no país, o preço das refeições fora de casa subiu 8,55% e cinema, teatro e concertos subiram 11,08%. Quando as contas apertam o primeiro a ser cortado é o lazer e a cultura.

MOTIVOS PARA ALÉM DOS VALORES

Apesar do valor dos ingressos e produtos serem um fator plausível, os portovelhenses disseram na enquete que o motivo mais determinante é: não ter filmes que lhe agradem em cartaz. 33,3% responderam isso, uma porcentagem um pouco maior que em relação ao preço.

É o caso de Amanda Batista, de 23 anos, que participou da enquete. Para ela, é muito raro ter algum filme em cartaz que chame sua atenção, pois prefere mais drama ou documentários e é difícil achá-los nos cinemas da capital. A dificuldade é tanta em ter filmes que lhe interessa que, no ano de 2022, ela foi ao cinema apenas uma vez.

“Os filmes que vêm para os cinemas de Porto Velho são muitos limitados, a maioria são filmes de super-heróis, animações ou terror. E, normalmente, não são filmes que me enchem os olhos para ir assistir”, diz Amanda Batista.

Sobre o gênero, de acordo com as respostas obtidas na enquete, os filmes que os participantes consomem mais intensamente são ação e aventura, seguido por ficção científica, animação, comédia e, por fim, terror.

Isso se torna essencial para as duas grandes empresas de salas de cinema que funcionam em Porto Velho, que limitam os filmes que entram em cartaz. Eles preferem dar espaço a obras que a maioria da população gosta, os que geralmente pertencem ao gênero ação, os famosos blockbusters, filmes de super-heróis, de terror ou de animação, que chamam a atenção do público infantil, ou seja, aqueles que são garantia de venda nas bilheterias. Quando tem algum filme fora desses gêneros, eles são colocados em poucos horários, e no pior horário possível, o último do cinema.

Outro motivo dos participantes não irem tanto ao cinema é porque preferem ver filmes em casa, em serviços de streaming, 31,8% dos participantes responderam isso. Algo que não é muito surpreendente, já que enquanto estávamos confinados o nosso refúgio era no escurinho da sala de casa. Ao perceber o quanto é reconfortante assistir filmes em casa e se economiza fazendo isso, realmente acabamos escolhendo ver filmes em streaming.

De acordo com o IPCA-15, os serviços de streaming, como Netflix e Amazon Prime Video, aumentaram seus valores, assim como o cinema, cerca de 11,52%. Mesmo tendo aumentos nesse setor, o streaming é financeiramente mais viável que ir ao cinema, além de poder dividir o valor das contas com familiares e amigos.

Seguindo esse raciocínio, os participantes compartilharam que consomem filmes de acordo com suas preferências, com 18,9% respondendo que preferem assistir nas salas de cinema, outros 22,7% preferindo assistir nos serviços de streaming e, com a porcentagem mais alta, com 57,6% dizendo que depende do filme. Isso mostra que os participantes optam por ambos sendo streaming ou salas de cinema, porém o que depende é o filme.

Assistir no conforto de casa tem uma maior porcentagem em relação a assistir aos filmes nos cinemas, já que a assinatura mensal de um serviço é praticamente o valor de um ingresso do cinema, além de outras vantagens, pois o consumidor terá um catálogo imenso de filmes e séries, além do conforto de casa. Ainda assim, seguindo a pesquisa, dependendo do filme, nada faz o consumidor preferir a experiência cinematográfica nas salas de cinema.

Mesmo que o streaming pareça mais vantajoso, não supre um cinema de verdade. Não temos a grana de um Tony Stark ou de um Bruce Wayne, mas tentativas de ir mais vezes ao cinema, com aquele dinheirinho suado e podermos imergir na telona, se desligando um pouco do mundo, vão continuar na nossa lista.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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