Vovó Ziza guia crianças e jovens ao mundo da imaginação
por Khauane Farias
As histórias fantasiosas fazem parte da vida de todos. Elas vão para além de onde os olhos podem ver. Nilza Monteiro de Oliveira, de 68 anos, navega por esse universo fantástico, quando se transforma em Vovó Ziza. Nilza é uma contadora de histórias, faz das palavras o seu instrumento de encanto. Para isso, usa a voz de uma adorável senhora que chama atenção por suas cores e entonação.
Apesar do nome já revelar certa idade, Vovó Ziza nasceu há 10 anos, de um encontro com a nova geração da sua família. “Quando tive as minhas netas, eu comecei a me lembrar das histórias que meu avô contava, então comecei a contar a elas e vivenciar as histórias”, revela. O episódio transformou o seu olhar e ajudou a redescobrir um mundo que estava no fundo de sua imaginação.

A contação de histórias mistura realidade com fantasia, com intuito de alegrar quem ouve, alimentando a criatividade e a imaginação. O prazer nas palavras está presente para ela desde sua infância, por isso a intenção de repassar para as novas gerações. “A literatura infantil sempre existiu na minha vida. Meu avô contava história para a gente e meu pai lia. Sempre gostei de ler”, conta. Ela explica que ler uma história é muito diferente de contá-la. A leitura é expressada no tom da voz, mas a contação está em envolver seus ouvintes. A partir de detalhes, cria-se um mundo em que tudo que está sendo dito é possível de se viver.
Nilza destaca a importância das palavras em sua jornada e como são fundamentais na construção da criatividade de cada criança. Em 2014, desenvolveu um projeto de oficinas de contação de histórias, em que ensinava a outros educadores como começar na atividade. “A contação de história é como se fosse um teatro, é uma vivência, você se envolve de maneira que fica dentro da história junto com a criança, a criança vibra, sente cada parte da narrativa, alguma coisa acontece”, diz.
Nilza e Vovó Ziza residem no mesmo corpo, com inspiração diária para contar histórias. A arte exige essa dedicação, pois é um reflexo da vida que é passado para as crianças. “Na história tem tudo, tem medo, vergonha, ódio, amor, desconfiança, inveja, tudo que a gente enfrenta na vida, e a criança absorve aquele ensinamento. Quando ela experienciar aquela sensação, já vai ser algo conhecido”, conta. É preciso encarar o mundo de forma crua e real. A terra do faz de conta ajuda neste aspecto, ela é repleta de ensinamentos.
Os estudos fizeram a contadora descobrir que a narrativa é uma forma de proteção. As mães e cuidadores transmitem aos mais novos os perigos da vida através das histórias. Em culturas distintas, os invasores ganhavam formas de gigantes, com olhos maiores que o normal. As crianças eram orientadas pelas fantasias a reconhecer quando o mal se aproximasse. “Nos dias de hoje, o perigo mudou, mas continua presente. A história ajuda a criança a amadurecer e a ter base para fazer suas escolhas”, explica.

Entre uma história e outra, Nilza e Vovó Ziza se misturam e se reinventam. Elas trazem a doçura da infância em suas palavras, lembrando do ontem para construir o amanhã. “A minha experiência com a história infantil começou com meu avô contando as histórias, tanto que quando eu tive filhos eu não lembrei as histórias. Eu fui lembrar das histórias do meu avô quando eu fui avó. É interessante como a memória afetiva da gente fica guardada esperando o momento certo para aparecer”, finaliza.
Se permita imaginar.