ColunaDor nas costasEntrevista/Perfil

Ortopedista explica causas e tratamentos para problema de coluna

Tratamento apropriado pode mudar o prognóstico do paciente

por Daiana Silva e Élida Furtado

As dores na coluna são indícios de problemas de postura ou de doença crônica. A dor contínua e intensa, específica ou não, merece sinal de alerta. O ortopedista e traumatologista, Elinton Bachmann, explica sobre a coluna vertebral, as doenças específicas e a importância do tratamento.

+ Dor na coluna: a principal causa de afastamento de trabalho

MORCEGADA: A coluna vertebral possui divisões. Como essas divisões são diferenciadas para que o problema seja identificado?

Elinton Bachmann: A gente divide a coluna em segmentos. Tem a coluna cervical, coluna torácica (dorsal) e a coluna lombar. Por isso, existe a cervicalgia, dorsalgia e lombalgia. A mais comum de dor é a lombalgia porque toda área de carga passa pela lombar, principalmente ali nos níveis L4, L5, L6. 80% dos problemas são nesses segmentos. Já os problemas na coluna torácica são mais raros porque ela é fixa, devido à costela; é uma coluna mais estável, diferente da lombar, que tem toda a sobrecarga. Em segundo lugar, depois das lombalgias, vêm as cervicalgias, que são problemas na cervical. A coluna envelhece como um todo. Você não vai ter uma coluna cervical sadia e uma coluna lombar machucada. Alguns pacientes vão ter sintomas cervicais e lombares, outros vão ter mais sintomas lombares, outros não vão ter sintomas lombares, mas cervicais. Vai depender dos hábitos de vida, histórico familiar, se o paciente é obeso, se não é, se é tabagista, se é sedentário, são vários fatores. A lombalgia hoje é um grande problema de saúde pública. Ela é a segunda causa de consulta no mundo, só perde para a dor de cabeça, e é a principal causa de afastamento no mundo. É um problema de saúde pública porque se gasta muito com afastamento, INSS, tratamento, SUS.

MORCEGADA: Quais são as diferenças entre dorsalgia e lombalgia?

Bachmann: A dorsalgia são dores no segmento torácico, no meio da coluna. As lombalgias são problemas na coluna lombar. Existem diferenças em relação aos sintomas. No caso da lombalgia, você vai sentir uma dor mais baixa, próxima do glúteo, que pode irradiar para a perna quando tem compressão de raiz e compressão de medula. As dorsalgias são dores na coluna torácica com sintomas mais inespecíficos. O paciente reclama de uma dor em faixa, às vezes a dor irradia para a região do peitoral. Ele não consegue definir muito bem o que é, por isso, há vários diagnósticos diferenciais para a dorsalgia. Os problemas de osteoporose, por exemplo, costumam afetar mais a coluna torácica. O idoso tem mais problema nessa parte, que faz muita fratura por osteoporose; são fraturas por compressão, o osso deles é muito fraco e aí a vértebra começa a achatar e fraturar.

MORCEGADA: Após o paciente receber o diagnóstico, quais são os caminhos para os possíveis tratamentos?

Bachmann: Dividimos os pacientes em dois grupos, o de tratamento cirúrgico e o de tratamento conservador. A cada 100 pacientes, até 8% vão operar a coluna. Vão fazer algum tipo de procedimento invasivo, uma infiltração, um bloqueio, um procedimento por radiofrequência, laser. E 90% vão melhorar com medidas simples, que são as mudanças de hábitos de vida. Você fala para o paciente fazer exercício, fortalecimento, que tem que sair do estado de inércia, aí ele vai melhorar a qualidade de vida dele. Dentro do tratamento conservador, temos uma gama de opções, como fisioterapia, pilates, hidroterapia, academia. A maioria precisa só de uma mudança no estilo de vida. Perda de peso, parar com o tabagismo, essa alteração dos hábitos de vida são fundamentais. Tirá-lo do sedentarismo é o principal. O que falo no consultório é que é melhor tratar um paciente gordinho e ativo do que um paciente magro preguiçoso, porque o gordinho reclama menos de dor. Mas se você juntar o sobrepeso com o sedentarismo, aí está feita a bagunça. Se juntar sobrepeso, sedentarismo, tabagismo e trabalho com peso, os fatores vão piorando o problema.

MORCEGADA: Como o tabagismo afeta a coluna vertebral?

Bachmann: Tem a ver com a vascularização do disco, porque o problema do tabagismo não é a vascularização central somente, que aumenta o risco de infarto, é a vascularização periférica, ou seja, os microvasos. A partir daí se têm as toxinas do cigarro que vão afetar essa vascularização. A nutrição do disco vai ficar prejudicada e esse paciente vai ter um disco mais desidratado. Ele vai ter uma degeneração mais precoce, mais rápida. O disco é composto de 70% de água, é como se fosse um silicone, quem nutre o disco é essa vascularização periférica; se não tem vascularização, o disco vai desidratar. Ele já vai desidratar com o envelhecimento naturalmente, junta o tabagismo e vai ter a desidratação. Se o disco desidratar, ele vai absorver menos impacto e causar mais dor. O disco tem um anel em volta dele chamado anel fibroso, se o anel romper, a substância no meio do disco, chamado núcleo pulposo, vai extravasar e comprimir a raiz do nervo, formando as hérnias de disco.

MORCEGADA: Quem trabalha fazendo muito esforço físico rotineiramente terá problema na coluna?

Bachmann: Tem gente que vai trabalhar na obra e nunca vai procurar um ortopedista. Tem gente que vai trabalhar no escritório e vai chegar no consultório com hérnia de disco, e eu tenha talvez até que operá-lo. Não é uma regra. Não é que a pessoa trabalhe com esforço que necessariamente terá um problema. Com certeza se encaixa em uma parcela que vai ter problema, mas não é uma regra. Se você fica muito tempo sentado, pode ter um problema tão grave quanto quem faz esforço, porque muito tempo na mesma posição também causa problemas. Essas são as posições viciosas. Então, existem as dores discogênicas e existem as hérnias de disco. A hérnia é quando o disco rompe. Quais discos vão romper? Tem gente que tem o disco mais forte, outros mais fracos, depende da constituição genética de cada um.

MORCEGADA: Quais são as consequências a longo prazo se não houver tratamento?

Bachmann: Com a doença não tratada, o paciente terá dores resistentes ao tratamento. Automaticamente, com a dor, ele se torna menos produtivo e poderá ter problemas de ordem psicológica, como a depressão, pelo fato de querer trabalhar e não conseguir por causa das limitações. Sem tratamento a longo prazo, a degeneração vai aumentar. Quando é feito o tratamento, você freia o processo degenerativo. Por isso, um paciente depois dos 40 anos, se chega ao consultório com 30 e fizer tratamento, ele vai mudar seu prognóstico, vai melhorar e ficar tranquilo. Sem tratamento, piora e poderá precisar de cirurgia. Ele não vai ganhar uma coluna nova, apenas o tiramos de uma situação calamitosa. Tem paciente que chega no consultório chorando, arrastando a perna, de cadeira de rodas, esses são os candidatos para operar. Ele quer ficar bom, mas não consegue mais. Então, tento evitar que o paciente chegue a um estado assim, estágio cirúrgico. A cirurgia é o último caso, é o fim da linha. Ele tem que provar que o exame está alterado e que ele não está bem. Se o exame estiver ruim e o paciente chega no consultório bem, jamais vou o operar. Existe a associação clínica e radiológica; se houver uma indicação errada de cirurgia na coluna, vira um casamento, esse paciente, sim, vai evoluir mal. Esses são os resultados ruins que se pode ter em relação a coluna.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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