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AVENER PRADO: fotógrafo explora jornalismo independente

Por Marcélia Andrade | Orientação: Larissa Zuim

Avener Prado é um fotojornalista brasileiro, nascido e criado em Porto Velho e ex-repórter da Folha de São Paulo. Hoje, seu trabalho é publicado regularmente em veículos internacionais como El País, BBC, Aljazeera, The Guardian e Le Monde, e em portais brasileiros como Repórter Brasil e UOL.

O profissional contou em entrevista que seu primeiro contato com o Jornalismo foi na Universidade Federal de Rondônia (UNIR), onde ele cursou um semestre no campus em Vilhena, mas teve que voltar para Porto Velho por questões financeiras. No início do seu trabalho, Avener gostava muito de fotografar teatro e com o tempo começou a se interessar mais por jornalismo e por contar histórias através das fotos.

Quando a Folha de São Paulo abriu um programa de trainee para fotojornalismo, começou a história de Avener com o veículo. “Eles pegaram meus contatos e começaram a me escrever e oferecerem pautas em Rondônia”, comenta.

A sua primeira história publicada na Folha foi sobre a usina Santo Antônio e a destruição do bairro Triângulo pela força das águas do banzeiro, fenômeno causado pelas turbinas da usina. Na matéria publicada, foi o primeiro registro em que a usina assume a culpa pelo desbarrancamento causado pelo banzeiro, pois antes alegavam que era um fenômeno natural da água.

Avener foi então contratado como repórter fotográfico da madrugada, permanecendo quase 4 anos, trabalhando das 22h às 5h, cobrindo crimes e violência. “Eu meio que aprendi a fazer outras coisas no jornal e comecei também a querer contar outras histórias fora desse contexto de violência, aí naturalmente as histórias foram mais para o rumo de Rondônia que é onde eu nasci e onde eu conheço bastante, e aí comecei a trabalhar com questões socioambientais na Amazônia”, revelou.

ALÉM DO JORNAL

“Minha primeira história fora do jornal foi Brumadinho. Mariana era um caso que eu já acompanhava há algum tempo pelo jornal, e aí quando estourou Brumadinho eu liguei perguntando para o jornal se era para ir ou não e eles falaram que já tinham mandado outro fotógrafo. Mesmo assim eu fui, sozinho, sem saber o que ia fazer, fui lá fotografei, fiz a minha história, e quando eu estava lá o Le Monde, um jornal francês, entrou em contato comigo para publicá-la, e eu publiquei a história em Paris, na França”, revela.

A história abriu os caminhos para fora do jornal. Três meses depois, Avener sai do jornal definitivamente e migrou para mídia independente. Desde então, trabalha como freelancer e luta por suas histórias. O campo em que atua muito é a Amazônia Legal, principalmente Rondônia, Acre, Mato Grosso, Pará, por dominar o que acontece na região, permitindo fazer uma boa história para vender e sugerir como pauta.

“A galera compra essa pauta, e aí eu consigo me manter e consigo me bancar, essa é a maior questão desse trabalho que não é tão rentável quanto os CLT, mas conforme o tempo for passando a vida de freela vai se estabilizando, mas é muito difícil no começo, agora que tá ficando mais tranquilo, eu consigo manter pelo menos um ritmo de uma história por mês ali, pra algum grande local, que consiga pagar as contas do mês”, disse o fotojornalista.

JORNALISMO INDEPENDENTE

Organizações não governamentais, como a ENÓIS Laboratório de Jornalismo, e outras que funcionam nesse sentido, são financiadas por meio de editais e parcerias. De maneira geral, quem quer trabalhar de forma mais independente, encontra vários portais pagando por produção, por pauta, geralmente de R$400 a R$500 reais.

Esses sites muitas vezes têm o espaço, inclusive, de colaboração, de proposta de pauta, dependendo da proatividade, organização e planejamento do comunicador. Algumas iniciativas também se mantêm a partir da contribuição de assinantes e do público de audiência.

O jornalismo independente é definido como um jornalismo feito sem vinculação econômica ou editorial a grandes grupos empresariais. A imprensa alternativa se estabeleceu, principalmente, no período ditatorial brasileiro (1964–1985), como uma forma de dar espaço a narrativas mal exploradas pela imprensa tradicional.

Cerca de 50 anos depois, essa noção de criar os próprios espaços se repete no jornalismo brasileiro, agora com a ajuda do avanço da tecnologia e com o rápido alcance que a internet proporciona. Apesar de muito reverenciado, o hard news tradicional, independente da mídia, é limitado, seja por patrocínio ou pelo viés da linha editorial da organização, o que faz muitos profissionais migrarem para o jornalismo independente.

NOVOS FORMATOS NA INTERNET

Com o avanço da internet, especialmente das redes sociais com a popularização dos smartphones, desde 2010, o texto longform começou a ser discutido em redações de grandes jornais, com os textos mais longos se tornando mais usuais com ajuda de recursos multimídias. O formato é como uma grande reportagem no meio digital, podendo ser trabalhado até como uma forma mais literária e permitindo maior aprofundamento de um tema, utilizando entrevistas mais desenvolvidas.

Eu gosto muito dessa fala mais poética, falando da experiência das pessoas, a partir de alguma temática, e eu vi que formatos de áudio, vídeo, texto, nas plataformas digitais seria possível. Eu fui para um jornalismo alternativo porque ele se propõe amplo e diverso, são espaços que a gente pode ocupar a partir de uma diversidade de olhares, em relação às fontes, em relação às temáticas, e a profundidade do que pode ser tratado, isso me motiva, e eu acho que é o futuro do jornalismo”, comenta em entrevista, a jornalista independente da ÉNÓIS Laboratório de Jornalismo, Camila Simões.

Além do longform, a internet também tornou possível usar os recursos multimídia individualmente, proporcionando maior inovação de formatos tradicionais. A rádio, por exemplo, hoje pode ser ouvida em plataformas de áudio, em forma de programas de podcast que narram e investigam histórias de forma aprofundada, programas motivacionais, ou programas especializados em determinadas áreas, porém sendo abordado de uma forma diferente da rádio tradicional.

MAPA DO JORNALISMO INDEPENDENTE

A Agência Pública mapeou as iniciativas independentes no Brasil, selecionando aquelas que nasceram diretamente na rede, fruto de projetos coletivos e não ligados a grandes grupos de mídia, políticos, organizações ou empresas.

Quando o jornalismo é controlado por grandes empresas, organizações políticas ou redes de mídia, a verdade pode ser relativa, pois há um interesse muito grande na exposição dos fatos. Neste contexto, surgem os canais alternativos de comunicação, que buscam noticiar com máxima veracidade e clareza as novidades do país e do mundo. A faculdade de comunicação e de jornalismo é um grande berço de iniciativas independentes, já que os jovens em formação e os recém-formados buscam nessas iniciativas espaço para começarem suas carreiras lutando pelo que acreditam.

Morcegada

Site jornalístico supervisionado pelo professor e jornalista Allysson Viana Martins, vinculado ao Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

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