Fake news influenciam vilhenenses na disputa da eleição presidencial
por Vanessa Forte
Muitas notícias falsas foram espalhadas pelas redes sociais, durante as eleições presidenciais brasileiras de 2018. Essas fake news contribuíram para um aumento na popularidade do candidato eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e uma desaprovação do seu oponente no segundo turno, Fernando Haddad (PT). 123 dessas notícias falsas foram avaliadas por meio das agências de checagem, como Lupa, Aos Fatos, e pelo projeto Fato ou Fake, do grupo O Globo. Os resultados demonstram que 104 beneficiaram o novo presidente e apenas 19 favoreciam o seu concorrente, segundo o Congresso em Foco.

A equipe do MORCEGADA fez uma enquete com a comunidade vilhenense, na qual foram apresentadas duas fake news. A primeira foi sobre Jair Bolsonaro: “Bolsonaro diz que, se eleito, vai acabar com o bolsa família”. A segunda sobre Fernando Haddad: “Haddad criou o kit gay”. Para Marilsa Pereira, a notícia sobre o candidato do PT era verdadeira. “Eu acredito pelo que a gente ouviu falar, apesar de não ter visto, eu acredito”, contou.
Das oito pessoas entrevistadas, apenas duas lêem jornais. As outras revelaram que recebem as notícias por meio de redes sociais, como é caso de Marcela Cosse, que consome as informações pelo WhatsApp, Facebook e Twitter. Orani Soares confessou acreditar na fake news de que Lula subiria a rampa para ser presidente, caso Haddad fosse eleito. Quando Bolsonaro foi mencionado, ela disse acreditar no presidente eleito pelo PSL, pois ele é muito verdadeiro.
Em Vilhena, Jair Bolsonaro recebeu 81,31% dos votos válidos e Fernando Haddad, 18,69%. Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelam a rejeição do candidato do PT na cidade. Dentre os oito entrevistados, três demonstraram desaprovação total ao candidato. Os outros cinco não manifestaram reprovação a Haddad, porém, alguns se negaram a continuar a entrevista, quando perceberam que o petista seria citado.
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CRESCIMENTO DAS FAKES NEWS
Os brasileiros consumiram fake news mais de 2,9 milhões de vezes entre janeiro e março de 2018. Em comparação ao ano de 2017, o compartilhamento de fake news cresceu cerca de 12%. O WhatsApp é a mídia social mais comum de proliferação. Em média, 95,7% das notícias falsas tiveram o aplicativo como disseminador, segundo o Laboratório de Segurança Especializado no Combate ao Cibercrime (DFNDR LAB).
O professor do Departamento de Ciência da Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rafael Sampaio, explica que as pessoas começaram a reproduzir e a compartilhar as fake news com a aceleração do fluxo da informação por redes sociais e dispositivos móveis. Essas matérias, verdadeiras ou não, confirmam o ponto de vista dessas pessoas. Para Sampaio, existe uma grande indústria de fake news, na qual grandes empresas financiam a propagação desses boatos. Essas notícias falsas influenciam a opinião pública, levando as pessoas aos extremos.
“Houve muitas notícias contra o PT, contra o Haddad. Isso certamente deve ter aumentado o anti-petismo, a rejeição ao partido, a rejeição ao candidato. A gente está diante de uns dos primeiros casos, de maneira muito maior do que a própria eleição do Trump, dos efeitos maléficos das fake news, especialmente quando feitas com objetivo eleitoral”, garantiu o pesquisador.
CHECANDO AS INFORMAÇÕES
Os jornais começaram a se a adaptar, criando plataformas de checagem, devido ao excesso de compartilhamento de notícias falsas. A prática conhecida como fact checking existe, na verdade, desde 1990, nos Estados Unidos. Ela consiste em um enfrentamento de histórias por meio de dados, pesquisas e registros, para checar o grau de verdade das informações.
A Lupa, ligada ao jornal Folha de S. Paulo, é a primeira agência brasileira dedicada estritamente a essa confirmação de notícias. Desde 2015, publica colunas de checagem em jornais, revistas, rádios e sites do país. Lupa também faz parcerias com o Facebook e com o Google para combater as notícias falsas. Em 2018, seus serviços foram voltados à cobertura das eleições para governos estaduais e presidência.

Mesmo com as agências de checagem, é necessário ter um cuidado na hora de compartilhar informações. Existem maneiras de analisar se uma notícia é falsa. Uma das principais dicas é pesquisar a manchete no Google, no qual é possível encontrar a confirmação da veracidade da matéria.