Muçulmanos em Vilhena: imigrantes mantêm juntos tradições e costumes
por Luciana Pereira
A religião muçulmana é norteada por princípios do islamismo. Para entender como funciona a prática religiosa, o MORCEGADA conversou com três adeptos que moram em Vilhena e ainda mantêm suas crenças: Aisha Alli Siddiq, Kayed Atalla Ghanayem e Ahmed Gad ElShafei vieram, respectivamente, do Irã, da Palestina e do Egito. Todos seguem à risca as cinco orações diárias que é lei em países islâmicos.

Em 2018, são aproximadamente 20 muçulmanos em Vilhena. Alguns se converteram, mesmo sem nascer em uma família de tradição islâmica, enquanto outros migraram de seus países e mantiveram sua tradição religiosa. A crença em profetas anteriores a Maomé, como Jesus Cristo, facilita a aceitação de brasileiros, em sua maioria cristã, segundo Kayed Ghanayem.
Os imigrantes que moram na cidade vieram praticamente pelos mesmos motivos, refugiados de treinamentos de guerra ou da própria guerra que acontecia em seu país natal. Os jovens do sexo masculino tinham obrigatoriamente de se submeter aos treinamentos de guerra no país. Entre os imigrantes, alguns vieram para trabalhar em frigoríficos, pela curiosidade de conhecer o Brasil, para visitar um amigo ou parente que já morava no país.
Em Vilhena, os fiéis mais antigos do islamismo chegaram em 1986, como Kayed e Ali Abdel Majid Mafal. Eles faziam as suas orações em um clube na cidade, onde se encontravam nos momentos combinados para o ritual religioso. Em 2007, foi inaugurada a mesquita, que funciona como local para encontro das cinco orações diárias.

AISHA: tradição herdada do seu povo
Em Vilhena há 3 anos, a costureira iraniana Aisha Alli Siddiq, de 45 anos, veio para o Brasil com apenas 3 anos de idade com sua mãe, uma refugiada de guerra. Casou-se com um brasileiro aos 14 anos em Mato Grosso, com quem teve 3 filhos. Aisha conta que até hoje não se acostumou com Vilhena por ser uma das poucas muçulmanas que seguem as tradições das vestes na cidade. Isso a deixa desconfortável, quando vai ao mercado ou a outro lugar com seu esposo.
Aisha sofre com piadinhas de vilhenenses que dizem que ela tem de retornar para seu país porque é mulher bomba. Por isso, o seu sonho é retornar para o Irã e viver com o seu povo. Porém, como saiu fugida, a lei do Irã não permite. “Se um dia eu voltar, terá que ser como brasileira e com documentos brasileiros”, revelou. O refúgio da Aisha é a sua profissão de costureira. Ela e o esposo atendem as clientes em casa, onde se sente acolhida com a amizade e o carinho das mulheres que sempre encomendam seus trabalhos.
Outra dificuldade de Aisha em Vilhena é a ausência de ingredientes para fazer os pratos tradicionais da cultura árabe que aprendeu com a mãe. “Eu sei fazer muitos doces árabes, porém a maioria dos ingredientes originais não tem aqui e tenho que substituir pelos brasileiros e os gostos ficam diferentes”, disse. Com a TV sempre ligada em canais árabes, ela acompanha as orações da sua terra natal. Aisha revela, contudo, que nunca teve contato com a sua família no Irã.

Aisha mantém a tradição religiosa herdada da família “Desde pequena, minha mãe ensinou todas as orações muçulmanas e sempre sigo todos os rituais porque acho importante manter nossos costumes vivos, mesmo distante do meu país de origem”, revelou. Com despertador ao lado de sua máquina de costura, ela fica atenta aos horários de oração. Na ocasião, dá uma pausa em seu trabalho para ir à sala de oração que seu esposo preparou para fazer o ritual religioso. “Em toda casa de uma muçulmana, o esposo faz a sala de oração porque na mesquita só vamos em uma ocasião especial, como nas orações do ramadã”, contou.
O ramadã é comemorado todos os anos entre os fiéis do islamismo no mundo inteiro e dura mais de 30 dias. Os muçulmanos se reúnem para as orações e fazem jejum do nascer ao pôr do sol, sem comer ou beber. O último dia de oração é comemorado com um banquete, em que todos se reúnem e comem várias guloseimas árabes feitas pelas muçulmanas.

KAYED: um palestino que gosta de casa cheia
Kayed Atalla Ghanayem, de 75 anos, veio da Jordânia para o Brasil em 1957, quando tinha apenas 14 anos. Refugiado de treinamentos de guerrilhas em seu país, instalou-se em Mato Grosso do Sul alguns anos. Em 1982, aventurou-se em Vilhena, onde vive até hoje. Casou com uma brasileira e teve 3 filhos. Segundo ele, no início, a maior dificuldade foi com a língua, pois não entendia nada em português.
O palestino mantém uma rotina das cinco orações diárias, que começam às 4h e terminam às 21h. “Cada oração dura cerca de 10 minutos, mas cumprir as rezas para mim é prioridade. Quase não vou à mesquita por problemas de saúde, mas sigo fazendo minha obrigação em casa mesmo”, concluiu Kayed, que é vice-presidente do clube de orações na cidade. Ele diz que a casa está sempre cheia das visitas de outros imigrantes. Na verdade, todos costumam fazer rodízios nas casas uns dos outros para celebrar a amizade e manter as tradições culturais.
Kayed relembra que anos atrás eles se reuniam na mesquita em Vilhena e faziam vários pratos diferentes de comida árabe. Isso mudou quando morreram seis imigrantes muçulmanos mais velhos e as despesas ficaram difíceis de arcar. Ele diz que ama a cidade por causa do seu povo acolhedor. O palestino conta, porém, que seu maior sonho é voltar ao seu país e morrer naquela terra considerada santa.
“Amo essa cidade e não quero sair daqui, porque o lugar que te dá comida você tem que amar e não só gostar. Ame primeiro a Deus depois sua pátria filha (…); toda tardezinha a gente pega o carro e vamos andar em Vilhena tudo e volta para casa, esse é que é vida de gente, não tem outra”, finalizou.

AHMED: orações diárias entre doces
Ahmed Gad Elshafei, de 55 anos, veio para o Brasil em 2002, onde ficou em São Paulo por alguns anos. Depois, foi trabalhar em frigorífico no Paraná e, em 2011, veio para Vilhena. Ahmed abriu uma loja nesta cidade para sua esposa Carla e ele vende doces árabes que vêm de São Paulo. Ahmed segue com rigorosidade todas as orações diárias onde estiver, quando o seu relógio desperta para lembrá-lo que está na hora de rezar.
Ele diz que as orações dependem muito, variam de 10 a 45 minutos. Segundo o muçulmano, já está acostumado com os 4 anos que mora em Vilhena. Ainda assim, além dos familiares, as comidas e os doces árabes são o que mais fazem falta a Ahmed.
Olá sou muçulmano de Porto Velho e gostaria de saber a localidade da mesquita para poder r3zar com os irmãos quando for a Vilhena a trabalho. Como faço no mínimo 2 x ao ano
Olá, Pedro. A Mesquita pode ser encontrada aqui: https://www.google.com/maps/place/Mesquita+Al+Rahman/@-12.7341501,-60.1388757,15z/data=!4m2!3m1!1s0x0:0x9d66de85820f8af9?sa=X&ved=2ahUKEwic74mIqZLlAhUJIbkGHdlGCCEQ_BIwCnoECA4QCA
Olá, bom dia, gostaria de saber onde localizar a comunidade muçulmana em Porto Velho, obrigada
Boa noite, infelizmente, não possuímos esta informação.